quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Ahhh... o Natal!

Eu acho genial pensar que metade das pessoas que eu conheço não acreditam em Natal. A grande maioria diria que o Natal é uma data inventada pelos capitalistas para vender mais. Mas e o dia das mães, dos pais, dos namorados, etc não são exatamente a mesma coisa?

Eu particularmente acho uma palhaçada toda essa coisa de menino jesus/sejamos solidários só uma vez ao ano. Ninguém dá a mínima o ano inteiro pras pessoas sem teto, pros favelados, pra quem recebe salário mínimo. Todo mundo ignora quem pede dinheiro. Aí chega o Natal e "vamos doar seus brinquedos e um belo peru para fazer estas famílias felizes". Acho tudo isso uma belíssima hipocrisia para aliviar a consciência da classe média. Porque essas pessoas só tem o direito de ser feliz no natal?

Mas minha intenção não era escrever nada com qualquer inclinação política e sim dizer que eu adoro o natal por um único motivo: ele é um ÓTIMO pretexto para encontrarmos pessoas que não tivemos tempo para ver o resto do ano. Adoro encontrar meus parentes mais distantes, meus amigos e algumas outras pessoas que gosto muito e que por termos vidas sempre "muito ocupadas" (leia-se todos só se ocupam com seus pequenos afazeres próprios) não temos tempo de nos ver a não ser no natal.

Enfim... aos amigos distantes e aos mais próximos. Àqueles que acreditam e aos que não acreditam no natal: Um Feliz Recomeço. Que tenhamos um pouco mais de tempo uns pros outros para podermos abolir esse pretexto chamado natal. Até porque eu tenho muito pena dos "Papais Noel" espalhados pelo Rio de Janeiro naquela roupa quente nesse calor todo.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Mulher de Malandro

Gosto dos mais canalhas
dos mais safados
dos mais clichê

Gosto dos mais bonitos
dos mais cobiçados
dos mais desgarrados
dos mais descolados
sabe-se mais do quê

Gosto de um olhar que domina
de um papo que engana
de quem sabe o que faz

Gosto de promessas vazias
de bocas quentes
de palavras frias

Gosto dos caras errados
nos lugares errados
e horas erradas

Gosto de voar bem alto
rumo ao sol, em asas de cera
Sempre caio e me machuco
Mas recomeço a brincadeira

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Um poema no qual tropecei por aí...

UM PEIXE

Um pedaço de trapo que fosse
Atirado numa estrada
Em que todos pisam
Um pouco de brisa
Uma gota de chuva
Uma lágrima
Um pedaço de livro
Uma letra ou um número
Um nada, pelo menos
Desesperadamente nada.

(Pagu)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Post da madrugada

Ligo a televisão para pegar no sono. Jô Soares entrevistando a Xuxa. Trailer do novo filme da Xuxa com a Sasha - isso mesmo, a Sasha - no papel título do filme. Xuxa conta que o filme é baseado em um livro que a escola da Sasha indicou para a menina ler quando estava na 3a série. Xuxa diz que o autor do livro está na platéia. Quem é o autor do livro? Pedro Bandeira.

[início do parágrafo para explicações] Pedro Bandeira era meu autor favorito na minha infância. Não li todos, mas li a grande maioria dos livros dele. A Coleção dos Karas. A Marca de Uma Lágrima... enfim, desnecessário citar nomes. Quem leu Pedro Bandeira na infância sabe do que eu estou falando. Acho que Pedro Bandeira está para crianças "nerds" assim como o Seya está para as crianças "normais". Ih... comecei a rotular, e sou obrigada a desconstruir os rótulos antes que me joguem pedras. Mas enfim, passei minha infância inteira sendo chamada de "C.D.F" e "Cabeção" na escola simplesmente porque gostava de ler, enquanto as crianças ditas "normais" estavam na frente da televisão. Mas enfim, isso seria quem sabe uma questão para outro post. Não é por isso que escrevo hoje e sim para falar sobre o Pedro Bandeira [fim do parágrafo para explicações]

Dadas as devidas explicações, sou obrigada novamente a me revoltar. Sério... foi necessário que a XUXA aparecesse no programa do Jô para que o Pedro Bandeira fosse visibilizado como um grande autor infantil. E o pior, o Jô só o convidou a sentar na poltrona (ao lado da Xuxa, claro) na segunda parte da entrevista. Agora fico com um sentimento muito ambíguo ao saber que meu autor infantil favorito vai finalmente chegar ao "grande público" através de um dos filmes da Xuxa com mil famosos. É triste pensar que meu ídolo de infância vai ficar para a posteridade assim...

E pela primeira vez desde os meus cinco anos de idade tenho vontade de ir ao cinema assistir um "filme da Xuxa".

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Pequeno Comentário

Fui só eu que tive a impressão de que esse apagão foi sabotagem política? Por favor, alguém diz que eu não estou ficando paranóica!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Diários de um retorno.


Pra todos aqueles que acham que foi fácil deixar a Alemanha pra trás, devo dizer: Não foi. Chorei horas no trem a caminho do aeroporto com saudades antecipadas daquela que foi minha família durante um ano. Então saio de Frankfurt com seus 2 graus e depois de um longo dia em aeroportos e aviões chego ao Rio de Janeiro com 32 graus. "Apenas" 30 graus de diferença. E quem bem me conhece sabe que eu ODEIO calor. Enfim... família e amigos me recepcionam no aeroporto. Festinha na casa do Tiago com muitos muitos amiguinhos. BEM divertido, embora minha memória não permita acesso a todas as coisas que aconteceram na noite.


Segunda feira. 6 horas da tarde. Ressaca. Primeiro almoço no Brasil: miojo com salsicha. Porque não? E todos sabem qual a maneira mais prática de acabar com a ressaca, não sabem? Então. Bar. Sueca e cerveja acompanhados de várias teorias de boteco surreais. Jantar em família.


Terça feira chego finalmente a casa onde vou morar durante esse mês. Passo o dia passeando pelo centro da cidade. Cervejinha com amiguinha. De volta pra casa. Cervejinha com amiguinhos. Achei que não ia gostar mais da cerveja do Brasil, mas nesse calor até que essa cerveja aguada e estupidamente gelada cai bem.


Quarta feira: praia.


Quinta feira: almoço na casa do Marcelo. Cervejas na casa do Rodrigo. MUITAS cervejas na casa do Rodrigo.


Sexta feira: almoço na casa da vovó + teatro + Cliperama. Saudades das festas do Buba e do Fabricio e de voltar pra casa as 6 horas da manhã. Diversão total.


Sábado: feijoada. A noite fui encontrar velhos amigos do colégio e depois ainda esbarrei por acaso com o Rodrigo na praça Vanhargen. Mais cervejas e risadas até de manhã. E, Deus! como essa cidade é quente.


Domingo é dia de mamãe. E hoje vou aproveitar pra ir ao cinema. A todos aqueles que ainda não consegui encontrar, vocês tem que entender que minha semana foi bem pesada. E devo dizer que, apesar do calor, não há nada melhor do que se sentir em casa.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Tic tac tic tac tic tac

Meu relógio não sabe contar
as vezes tudo passa tão rápido
as vezes tão devagar.

Meu relógio não perde tempo
e se me concentro no que está fora
não entendo o que há por dentro

Meu relógio não volta atrás
deixa o presente no passado
e o passado não volta mais

Meu relógio não sabe contar
as vezes tudo passa tão rápido
as vezes tão devagar.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Perguntas existenciais

Porque o primeiro dia depois das férias sempre é mais longo do que todos os outros dias do ano?

Porque é tão difícil se expressar de maneira completa numa lingua estrangeira, mesmo sendo fluente nela?

Porque eu sempre conheço as pessoas certas nas horas erradas?

Porque MSN, orkut e ferramentas virtuais em geral não tem um sensor que impeça pessoas bêbadas de fazerem merda?

Porque o meu dinheiro sempre acaba muito antes do fim do mês?

Porque viajar um dia inteiro cansa se passamos a maior parte do tempo sem fazer nada?

Porque tenho a sensação de que quanto mais aprendo outra lingua, mais eu desaprendo o português?

Porque não podemos desligar o cérebro antes de dormir?


(quem tiver respostas pra QUALQUER UMA dessas perguntas, por favor me escreva!)

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

: )


Feliz...

achei apenas que isso merecia ser registrado publicamente, já que isso é tão raro na minha vida de au-pair na Alemanha. Nem a raiva das coisas na minha vida sempre acontecerem na hora errada está sendo capaz de afetar minha felicidade... Estou simplesmente bem. Conheci pessoas legais. Muito legais. Conversei. Dei risadas. Bebi. Me diverti. Acho que tive um pouco a minha velha vida de volta por um fim de semana. Amanhã vou pra Berlin encontrar um amigo maravilhoso que sempre me faz bem... amo muito. E amo muito Berlin também. Ainda visito uma amiga de infância queridíssima em Dresden semana que vem... O que mais eu poderia querer na vida?

Eu sei que felicidade é difícil de definir e eu to aqui tentando me explicar porque estou feliz como se isso fosse um crime... mas depois de 11 meses de Alemanha cheguei a conclusão do que significa a felicidade pra mim agora: boa companhia.

Enfim... deixando as palavras de lado, registro com essa foto da Oktoberfest o quão fui feliz no último fim de semana.

E bom fim de semana a todos!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Wannabe

Tenho sido muito séria ultimamente... I mean, posts políticos, posts românticos, posts reflexivos.... meus velhos amigos devem estar se perguntando "onde foi parar a Carol louca que eu conheci?" Por isso, pra descontrair essa seriedade que anda pairando pelo meu blog há algum tempo, sou obrigada a assumir que algo não mudou em mim desde que eu tinha 10 anos de idade. Naquela época, se alguém me perguntasse "O que você quer ser quando crescer?" eu diria: Victoria Beckham. E sou obrigada a repetir isso 13 anos depois...

Sério... ela é linda, dita estilo pelo mundo, tem um marido perfeito e filhos lindos... E além de tudo isso, ela será eternamente uma Spice Girl. Sorry, meros mortais ... não importa o quanto vocês a critiquem... ela é perfeita. Ou melhor, eles são:


quinta-feira, 3 de setembro de 2009

canção do amor eterno

Ele dizia que a amava
e mesmo assim a deixou.
No início foi bom... ela riu,
se libertou, se divertiu.
Mas depois doeu...
ela chorou, sofreu, quase morreu.
Disse que jamais o esqueceria
mas esqueceu...

Ela dizia que o amava
e mesmo assim o deixou
No início foi ruim... ela chorou,
se perdeu e se reencontrou
Mas depois passou...
ela riu, cresceu, se transformou
Disse que jamais amaria de novo
mas amou...

Eles diziam que se amavam
e mesmo assim se separaram
No início foi estranho... ninguém chorou
"Um amor tão lindo... como acabou?"
Mas depois tudo fez sentido
Não podia um amor tão bonito
tão perfeito, tão onírico
numa prisão permanecer
Disseram que jamais voltariam
mas sempre voltaram a se ver.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Refeição Alemã

Todo dia de manhã quando abro o jornal leio uma notícia absurda e tenho vontade de escrever algo sobre ela. Resolvi hoje apenas fazer pequenas comentários sobre algumas delas e deixar os nobres amigos brasileiros as digerirem da maneira desejada.

Entrada - Escândalo na campanha eleitoral em Berlin. Uma candidata do CDU (partido democrata-cristão alemão, ao qual pertence a Chanceler Angela Merkel) coloca nas ruas de Berlin um outdoor onde ela e a chanceler alemã aparecem com um mega decote sobre o slogan "Nós temos mais pra oferecer". Pensa na loucura... os conservadores ficaram LOUCOS!!

Prato principal - Escândalo político na Alemanha. A ministra da saúde (ou algo do gênero... sei lá como se traduz cargo político do alemão pro português) sai de férias com carro oficial. O carro é roubado no meio das férias e ela alega ter ido com o carro oficial porque teria também compromissos de trabalho e que ir de carro era a maneira "mais barata". Mostra contas e tudo. O genial é que depois descobrem que há anos ela vai de férias pra Espanha com o carro oficial e sob o mesmo pretexto bota tudo na conta do governo. Voltou bronzeadíssima da Espanha pra depor. Preciso dizer que achei o máximo saber que essas coisas não acontecem só no Brasil???

Sobremesa - Ok... aqui não acontecem tantos assaltos quanto no Rio de Janeiro. Mas juro que ainda me impressiono com o número de assassinatos "por razões raciais" e com a quantidade de notícias sobre pedofilia que encontro no jornal semanalmente. Fico me perguntando se no Brasil a mídia simplesmente esconde esses casos e eles só aparecem em estatísticas chocantes de quando em quando ou se realmente "a vida perfeita" alemã produz essas coisas em quantidade maior.

Cachacinha (pra ajudar a digerir) - FDP é a sigla do partido Liberal Democrata alemão. Preciso dizer mais algo?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Carpe Diem

(porque quando eu vivia pensando no amanhã o tempo demorava a passar....)

domingo, 26 de julho de 2009

Filme "de menino" e filme "de menina"

Ontem, não sei bem o porquê, veio a minha mente uma reflexão no mínimo curiosa: Porque meninos gostam de filmes de aventura e meninas gostam de musicais, quando o problema principal de ambos os gêneros é o mesmo - a questão da verossimilhança.
Me lembro que há alguns anos um namorado me levou para assistir 007 e depois de dez minutos de filme eu queria desesperadamente ir embora do cinema: pra mim era impossível assistir um filme em que o personagem cai de um avião, sai esquiando e sobrevive feliz. Aquilo era muito surreal pra mim. Meu namorado me obrigou a ficar até o final e assistir mais alguns "absurdos" do gênero.
Como revanche, levei o mesmo namorado para assistir Chicago. Ainda na porta do cinema, ele protestou "Ah, não! Musical eu não gosto! Aquilo não faz nenhum sentido. As pessoas estão na vida normal delas e do nada um começa a cantar e surgem bailarinos e a vira tudo uma festa. Não... não dá!"
Pois é... agora a minha questão é a seguinte: porque as mulheres gostam de musicais, mas não conseguem engolir a falta de realismo dos filmes de ação e os homens agem de maneira contrária? Ambos os gêneros NÃO SÃO sustentados pela realidade. Qual a diferença crucial que faz os homens gostarem mais de um gênero e as mulheres de outro?

Não sei a resposta... mas devo deixar registrado que eu continuo não gostando de 007... mas meu ex-namorado adorou Moulin Rouge e Chicago.

domingo, 19 de julho de 2009

Misunderstood


Ninguém fala a minha lingua e os que falam o mesmo idioma que eu parecem não entender o que quero dizer. Será que eu desaprendi a me expressar? Tenho a sensação de que faltam palavras em todas as linguas. Misturo idiomas. Não chego a lugar nenhum. As vezes tenho a impressão de que as imagens me bastariam, apesar delas incitarem interpretações diferentes em cada pessoa que as vê. Mas no fim, não é sempre assim? Cada um interpreta tudo ao seu redor a partir de suas próprias experiências. Impossível ser de outra maneira. Me parece que somos todos espelhos, refletindo nossas próprias imagens uns nos outros.
Me fiz entender?

Creio que não.
Mas já cansei de tenter me fazer entender e de me explicar... e se eu alguém conseguir me entender, por favor, me esclareça... porque eu também não tenho muita certeza de mim mesma.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

A vida estraga a Ficção

Don Juan de Marco é um dos meus filmes favoritos. A primeira vez que o assisti devia ter mais ou menos uns 10 anos e desde então o revi inúmeras vezes. Como todo bom filme, cada vez que eu o revia, descobria algo de novo, que a minha inexperiência anterior havia deixado escapar. Ontem, Simone de Beauvoir me falava de Haréns e me lembrei de Don Juan vestido de mulher num harém. Fiquei com vontade de rever o filme. Já na primeira cena, me choquei. Aquele filme que eu tinha visto tantas vezes me parecia um filme completamente novo. Como assim aquele homem estava vestido daquele jeito numa cidade norte-americana na década de 90??? Pela primeira vez, me passou pela cabeça logo de cara, na primeira cena do filme, que ele era louco. O filme desmoronou na minha frente. Marlon Brando como o psiquiatra que "entra na onda" do louco, o hospício, o mundo real... Tentei enxergar o filme como antes, mas minha vida não deixa. Pra mim ele era o Don Juan. Sempre foi. Eu nunca havia duvidado disso. Porque as minhas experiências me prendem tanto à vida real que não consigo mais ter essa fantasia? O filme continua belíssimo, mas é outro...

E a vida estraga pouco a pouco o meu mundo mágico ficcional...

"There are only four questions of value in life, Don Octavio:
What's sacred?
Of what is the spirit made?
What's worth living for?
and
What's worth dying for?
The answer for each is the same: only love."

(Don Juan de Marco)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Pátria


Foto de uma placa no Parque do Retiro, Madrid. Tenho a sensação de que dificilmente encontraria algo similar aqui na Alemanha. Lindo.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Sobre a inexistência


Tenho lido Sartre e Simone de Beauvoir e talvez por isso uma das questões que mais tem povoada minha cabeça tem base no sentido da existencia. O que é existir? Somos seres humanos. Pensamos. Falamos. Ouvimos. Reproduzimos. Nascemos e morremos incessantemente. O que faz cada um de nós diferente do outro? O que faz da minha existência valiosa? Tenho a sensação de que a maioria das pessoas que passaram por esse mundo "inexistiram". Quero dizer, passaram pelo mundo. Ponto final. Não tenho muita certeza do que quero fazer, mas não quero simplesmente passar por aqui... Essa existência repetitiva e monótona de dona de casa é algo que não quero. Quero ver o mundo. Percorrer grandes distâncias. Conhecer pessoas, culturas. Explorar. Dividir. E depois redescobrir tudo isso através dos outros. Não tenho medo da morte. No final, tem tanta gente que vive, vive e vive e não vive nada. Prefiro viver sem medo de morrer do que morrer com medo de viver. Acho que a existência consiste nisso: em dar cada parte minha ao mundo como se fosse meu ultimo momento.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Por que voltar pro Brasil???

Acho que desde que cheguei na Alemanha uma das coisas que eu mais ouço é "Você quer voltar pro Brasil? Porquê??" Pois bem, achei então que era uma boa idéia escrever um post no meu blog deixando registrado os motivos pelo qual quero voltar para o Brasil.

Primeiramente, devo deixar claro que não sou nacionalista. Nunca fui e acho essa história de nacionalismo uma palhaçada. Acho a bandeira do Brasil feia. Nos jogos do Brasil na Copa, ficava na cozinha fazendo caipirinhas e pipoca. Enfim, porque voltar pro Brasil?

Qualquer pessoa que já morou no exterior sabe que "não há lugar como o nosso lar". Mesmo que nos sintamos deslocados da cultura nacional, tem algo nela que faz parte da gente. Como assim, Carol? Olha, quem me conhece sabe que eu odeio praia, pagode, funk e calor. Ainda assim, me sinto mais carioca do que européia. Tem coisas que fazem parte da gente e nenhuma outra cultura vai substituir isso. Pra começar, a lingua. A gente cresce ouvindo português. Aprende a se expressar nessa lingua e consegue entender quase tudo que as outras pessoas falam relativamente bem. Por mais que se fale uma segunda ou terceira lingua fluentemente, uma pessoa nunca vai se expressar tão plenamente numa outra lingua quanto na sua lingua materna. Ok, mas isso não é motivo o suficiente, já que eu posso morar fora do país e continuar me comunicando em português a maior parte do tempo (através de msn, orkut, blog, skype). Segundo motivo: a comida. Gente, frutas e legumes na Europa não tem gosto de nada! Alemão só como pão, batata e linguiça. Ok... exagero meu. Mas pra quem estava acostumada a café de verdade todo dia de manhã, a comprar frutas na feira e comer um feijãozinho uma vez por semana, a alimentação aqui é chocante. Tem suas vantagens: os chocolates são maravilhosos, as cervejas também. Os vinhos e champagnes baratíssimos. Mas nada disso compensa o prazer de tomar um suco de abacaxi com hortelã num dia de calor.
Pra quem ainda acha que tudo isso é besteira, chego ao meu terceiro motivo: a cultura. Os alemãe são MUITO certinhos. Mesmo. De vez em quando chega a ser invejavel a auto-disciplina deles, mas aí você percebe que eles são assim o tempo todo. Exemplo: aqui na Alemanha pedestre não pode atravessar quando o sinal pra eles está vermelho, mesmo que não venha nenhum carro. O que acontece? Eles não atravessam. Aí você fica lá, que nem um idiota, atrasado, esperando na rua vazia o sinal abrir. Não aguento isso! Pode parecer besteira, mas esse exemplo do sinal valhe para cada aspecto da vida deles.
Enfim... tem coisas que só se entende morando fora, mas a verdade é que independente de pra que país da Europa você vá, você será sempre mais um terceiro-mundista tentando a vida no primeiro mundo e eles sempre te olharão dessa maneira. Você sempre será considerado inferior por não ter nascido na Europa e não ter tido as condições básicas de ensino e cultura que eles tem. E tem que ter muita paciência pra ficar se provando pra todo mundo o tempo todo. Paciência nunca foi das minhas maiores qualidades, portanto volto pra casa.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Grandes cidades no mundo

Depois da minha ida a Amsterdam, fui obrigada a eleger meu TOP 5 das minhas cidades favoritas no mundo e listar 5 motivos para eu amar estas cidades... É engraçado perceber como as grandes cidades conseguem ser ao mesmo tempo tão parecidas e tão distintas.... OK... top 5:

5o lugar: Rio de Janeiro.

Sim... o Rio está na minha lista de cidades favoritas. Meus 5 motivos pra amar o Rio de Janeiro:

1 Apesar da violência e do caos, continua sendo uma das cidades mais bonitas do mundo.
2 Opções... muitas opções. No Rio de Janeiro se pode fazer qualquer coisa a qualquer hora do dia.
3 Meus amigos estão lá! E lógico que isso faz TODA a diferença.
4 Boa comida e boa bebida por preços bons... nada no mundo se compara a uma porção de aipim frito com caipirinha na Lapa.
5 Diversidade cultural. O Rio é uma das poucas cidades no mundo onde tudo se mistura... e hoje eu percebo o quanto crescer nesse meio foi importante pra mim.

4o lugar: Londres

Como assim, Carol?? Londres não está em primeiro lugar?? Não, não está! Achei multi-cultural demais pra mim... rs... Não, sério... fiquei irritada porque lá foi a cidade onde mais ouvi português desde que cheguei na Europa. Motivos pra gostar de Londres?

1 Os museus que, além de gratuitos, são maravilhosos.
2 As feiras, mercados e afins onde consegue-se achar MUITA coisa legal por preços bem em conta
3 Os londrinos que, além de terem sotaque britânico, são extremamente simpáticos e dispostos a ajudar
4 Os parques: simplesmente irresistível sentar neles numa tarde de sol para descansar
5 As pessoas na rua com muito, muito estilo.

3o Lugar: Paris

1 As pessoas falam francês! Quer motivo melhor que esse?
2 Em Paris você sempre tem a sensação de estar num filme... A cidade é tão monumental e antiga e em todo lugar tem um artista de rua para acrescentar uma trilha sonora ao seu momento cinematográfico
3 Os museus. Você precisa morar em Paris para poder desfrutar do Louvre e dos outros museus de uma maneira plena.
4 O metrô de Paris - me senti em casa! Metrô lotado de gente diferente, vinda de tudo quanto é lugar do mundo...
5 A Cinematheque Française....

2o Lugar: Berlin

1 Sempre tem alguma coisa acontecendo em algum lugar da cidade
2 Os parques são praticamente um centro cultural
3 As pessoas são simpáticas e educadas! Nem parece que você está na Alemanha...
4 Diversidade misturada... ao menos foi o que me pareceu... o bairro Kreuzberg me lembrou um pouco a Lapa.
5 Possibilidades culturais infinitas: teatros, cinemas, bibliotecas, universidades... AHhhhh!!

1o Lugar: Amsterdam

(e não, eu não fumo maconha.)

1. Apesar de ser uma cidade internacionalmente conhecida, Amsterdam é pequena e aconchegante.
2. É fantástico ver como o antigo e o moderno se misturam de maneira perfeita nessa cidade.
3. As pessoas são EXTREMAMENTE simpáticas. Todo mundo conversa com todo mundo.
4. Em Amsterdam TUDO pode acontecer.
5. A sensação de liberdade que só Amsterdam me dá. Não importa o que você faça, o que você vista, o que você queira... ninguém vai olhar pra você de cara feia em Amsterdam.

sábado, 23 de maio de 2009

melancolia


o vazio está sempre presente:


os felizes o ignoram
os idealistas o abraçam
os ricos o camuflam
os depressivos o evidenciam
os equilibrados convivem com ele.


eu?

o vejo no espelho.

sábado, 16 de maio de 2009

Revolver - Side B

Entrou na casinha vazia. Sobre a mesa da cozinha, bolo de fubá fresco. Sentiu cheiro de café fresco e chamou pela mãe. Atravessou o corredor onde a tinta da parede descascava. Chegou àquele quarto que fora seu durante anos. Nada além da cama feita e uma mesa redonda, com uma caixa decorada sobre ela. Ao lado da porta, numa vitrola, um lado de um disco terminara de ser tocado e o braço da vitrola voltava a descansar. Deixa a mala no chão, ao lado da vitrola. Ele vira o disco, limpa a agulha com um sopro e coloca o lado B para tocar. "Good day sunshine, good day sunshine".

Ele ri e vai até a janela. Ninguém do lado de fora. Volta para a mesa redonda onde está a caixinha decorada. Abre a caixa, colocando a tampa lentamente ao lado. Retira de dentro da caixa um baralho. Ri. Lembra-se de sua mãe em sua infância, que em momentos de crise sentava-se naquela mesa no seu quarto, achando que ele dormia e abria o baralho em forma de cruz. Ele, debaixo do cobertor, apenas olhava sua mãe sob a luz da lua que entrava pela janela. Ela sempre lhe parecera tão bela naqueles momentos misteriosos... Abre a caixa do baralho e embaralha as cartas distraidamente. Nunca entendera o que aquelas cartas significavam ou que resposta a mãe procurava. "But you don't get me! You don't get me!"
Deixa as cartas de lado e olha novamente para a caixa. Uma rosa vermelha. Pega a rosa e espeta o dedo em um de seus espinhos. Instintivamente coloca o dedo na boca. Lembra-se de seu pai lhe ensinando a plantar rosas no jardim e do número infinito de vezes em que o pai tivera exatamente a mesma reação. Ele apenas rira de seu pai. Agora percebe como tudo se repete. Sacode a cabeça como que acordando de um sonho. Coloca a rosa de lado e olha novamente para a caixa. Um chapéu. Sorri ternamente ao ver esse objeto tão inesperado. Lembra-se de sua ex-namorada na noite chuvosa em que se conheceram. Lembra-se de como ela pegou na mão dele e o fez atravessar a rua entre os carros e entrar num ônibus. Sente ela atrás dele, encostando a boca no seu ouvido e sussurando "Isso é um sequestro", depois tirando o chapéu e usando ele pra secar o rosto molhado. "And in her eyes you see nothing. No sign of love behind the tears".

Na mão dele está o chapéu molhado de chuva. Pensa que ela saiu de sua vida da mesma maneira inesperada que tinha chegado e vê a si mesmo encolhido na cama chorando abraçado com o chapéu. Se vê jogando o chapéu longe e se encolhendo ainda mais na cama. Vê sua irmã entrando no quarto e sentando ao seu lado e lembra-se da maneira como a expulsou do quarto com gritos porque não gostava de chorar na frente de ninguém. Fecha os olhos com força e volta a realidade. O chapéu está no chão. "Well, well, well, well. You're feeling fine"

Olha novamente para dentro da caixa. Uma foto. Ele e a irmã crianças sentados na porta de casa rindo. Ri pensando na maneira como irmãos sempre brigam, mas viram bicho quando alguém machuca o outro. É como se só ele tivesse o direito de machucar sua irmã e vice-versa. Coloca a foto ao lado da caixa. Olha para dentro da caixa e vê um casaco velho. Vê a si mesmo sentado na cama, vestindo o casaco e lendo. Vê a si mesmo na janela vestindo aquele mesmo casaco e fumando. Se vê novamente na cama, cercado de livros, escrevendo. Se vê encostado na janela bebendo uma cerveja. "I don't mind. I could wait forever, I got time".

Veste o casaco. Olha para a caixa novamente. Vazia. Anda até a janela. Acende um cigarro. "Ooh, then I suddenly see you".

Vê a mãe chegando no portão, carregando uma bolsa de legumes e verduras. Fica fumando na janela, esperando que a mãe perceba sua presença. Ela entra na casa sem notá-lo na janela ao lado. Ele apaga o cigarro. Respira fundo e sai do quarto. A mesa está vazia. "Or play the game existence to the end of the beginning..."

O disco termina de tocar e o braço da vitrola volta a descançar.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Revolver - Side A

Um quarto vazio. Uma mesa no meio do quarto. Uma caixa vazia sobre a mesa. Grande o bastante para colocar todos os objetos de valor e guardá-los em algum lugar seguro. A caixa fora decorada cuidadosamente com frases, recortes e fotos como que para lembrá-la da importância das coisas que seriam guardadas ali dentro. Ela olha para dentro da caixa vazia fixamente. Ao No chão, ao lado da porta, uma vitrola. Ela anda até a vitrola, abre sua tampa, limpa a agulha com um sopro leve e coloca o disco para tocar. "One, two, three, four".

Um homem tosse. Ela ri. Ela anda até a mesa e sua caixa vazia. Seus pés descalços estão sujos. O chão de madeira está coberto por uma leve camada de pó e por onde ela passa, ficam as marcas de seus passos. A caixa continua sobre a mesa, como uma criança ansiosa a espera de seus presentes de aniversário. Ela olha novamente para a caixa vazia."Ahhh... look at all the lonely people".

Ela fecha os olhos e lembra-se de sua mãe. Da maneira como ela sempre havia lhe dito que objetos não faziam a menor diferença e que ela devia se desapegar do mundo material. Sentiu sua mãe lhe abraçando. Abriu os olhos. Ao lado da caixa o velho casaco de lã de sua mãe. Ela pega o casaco com cuidado, o dobra e o coloca dentro da caixa. Lembra-se de sua infância numa pequena cidade do interior quando passeava de mãos dadas com seu pai e sua mãe. A mãe de tranças e vestindo aquele mesmo casaco. O pai com seu olhar compreensivo a colocava nas costas quando suas pernas não aguentavam mais andar. E ela ria... "Please don't spoil my day, I'm miles away..."

Sobre a mesa, uma foto dele nas costas do pai que ela olha carinhosamente e coloca dentro da caixa, sobre o casaco da mãe. Olha para o quarto vazio. Lembra-se de quando se mudou para aquele apartamento. Do quão feliz estava pela sua "liberdade" conquistada. Enxerga-se sentada ao meio das caixas com uma garrafa de vinho, rindo. Ao lado da caixa decorada, vê o chapéu que usava no dia da mudança e o coloca dentro da caixa junto com os outros objetos. "Each day just goes so fast, I turn around it's past".




Sente seu olho encher-se lentamente de lágrimas ao ver-se com aquele mesmo chapéu sentada jantando naquela mesma mesa redonda com seu ex namorado. Os dois brindam com vinho tinto e se beijam. Ela rouba uma batata do prato dele. Ele tira o chapéu da cabeça dela. Ela sacode a cabeça pra ajeitar o cabelo. Riem. "To lead a better life, I need my love to be here".

Com os olhos turvos pelas lágrimas ela vê uma rosa vermelha ao lado da caixa. Olha para a rosa. Se enxerga num canto do quarto, sentada, chorando. Uma rosa despetalada está nas suas mãos. A sua volta, além das pétalas da rosa, cacos de um espelho despedaçado, sangue e uma garrafa de vinho caída. Ela bebe um pouco de vinho no gargalo e ri, apesar de lágrimas escorrerem de seus olhos. Coloca então a rosa dentro da caixa. "And our friends are all aboard".

Olha para o mesmo canto do quarto onde se viu caída há pouco. Seu melhor amigo está lá, ao seu lado. Ela chora deitada no seu colo. Ele acaricia seu cabelo. Ela não se move. "She said I know what it's like to be dead".

Olhando novamente para a mesa, ao lado da caixa está um baralho. Ela ri e fecha os olhos. Lembra-se dos inúmeros dias em que aquela casa esteve cheia de amigos jogando sueca naquela mesa. Muitas cervejas. Riem muito. Ela coloca o baralho na caixa e a fecha. Na vitrola, o disco acabou de tocar. Ela deixa a caixa sobre a mesa e sai. Na sala do apartamento vazio apenas sua mala e um par de botas. Senta-se na mala e calça botas nos pés sujos. Pega então sua mala. Sai do apartamento e tranca a porta. Caminha pelo corredor vazio e entra no elevador. Na saída, deixa a chave com o porteiro, avisando para entregá-la ao proprietário do apartamento. Sai do prédio sem olhar para trás.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Sobre os livros que cercam nossa vida


Durante esse fim de semana em Berlin estava conversando sobre o PC sobre os livros que tinha vontade de ler e ainda não li e a sensação que tenho de que certos livros entram na nossa vida na hora certa. Lembrei-me então desse texto que escrevi pra mim mesma há pouco mais de um mês e achei que valia a pena postá-lo aqui.



Tendo terminado de ler "A Metamorfose" do Kafka, me assombrou pela segunda vez desde que cheguei na Alemanha o pensamento de que certos livros passam pela nossa vida no momento certo. Acho que o mesmo vale para filmes e outras obras de arte. Mas hoje quero falar sobre a minha experiência com os livros na Alemanha. A primeira vez que esse pensamento cutucou minha consciência foi ao ler "Assim falou Zaratustra" (Nietzche). Comecei a ler este livro pouco antes de sair do Brasil, mas não conseguia de maneira alguma avançar. Após chegar na Alemanha, tudo que era dito no livro começou a se encaixar. Assim como Zaratustra no livro eu também era uma viajante uncompreendida que cada vez mais só encontrava sentido e compreensão dentro das minhas próprias reflexões. Meu refúgio do mundo exterior era meu mundo reflexivo. E pela primeira vez tive a sensação de estar lendo o livro certo no momento certo.


Ainda nesses primeiros momentos de isolamento voluntário, li uma peça do Sartre chamada "Os sequestrados de Altona" (que por coincidência - ou não - se passa na Alemanha). O personagem principal dessa obra também sofre um isolamento que, embora não seja exatamente voluntário, não é completamente involuntário. O agravante é que este isolamento interfere na vida das pessoas em volta. Percebi então duas coisas importantes: a primeira é que as minhas escolhas, apesar de influenciadas por pessoas e circunstâncias, são minhas e somente minhas. O "sequestrado de Altona" poderia sair de seu estado de sequestro e alienação do mundo real. Não o faz porque não quer. A segunda constatação que fiz a partir deste texto foi a de que as minhas escolhas, apesar de serem "minhas e somente minhas", afetam mais pessoas do que eu posso imaginar a princípio e podem trazer consequencias imprevisíveis. Ou seja... no fim de tudo concluo que as minhas escolhas são minhas e ao mesmo tempo afetam outrem o que as torna muito mais pesadas e dificeis de serem feitas.


Aí começo a ler Kafka, onde todo esse estado de estranhamento é involuntário. Afinal, o personagem principal não escolheu se tornar um inseto estranho... ele simplesmente acordou daquele jeito. E é essa metamorfose o ponto de partida para a reflexão de sua vida até então: aquela que ele não pode ter de volta. Então me percebo como esse inseto do Kafka: num país estranho, com habitos culturais diferentes dos meus e vendo a vida que eu não sabia que amava se desfazer com a minha ausência, sem que eu possa fazer nada para salvá-la. É interessante perceber que só podemos analisar as situações quando estamos de fora delas. Enquanto vivia a sua rotina diária, aquele personagem não dava valor às coisas que tinha a sua volta porque precisava trabalhar para mantê-las. A partir do momento em que essa rotina é interrompida e ele é colocado "do lado de fora" de sua própria vida, ele é capaz de refletir sobre a mesma. Ao contrário de Zaratustra, essa reflexão não é voluntária. Ao contrário do Sequestrado de Altona, ele não é preso por outrem e escolhe continuar naquele estado. Ele não tem escolha. Acredito que na vida real existam situações que fazem com que nos sintamos de maneira semelhante a esse personagem de Kafka: a morte de uma pessoa próxima, um acidente que nos tire de nossas funções normais temporaria ou permanentemente, o fim de um relacionamento, a mudança pra um lugar distante... A verdade é que essas situações, além de nos fazerem refletir sobre o passado, nos fazem sentir como se tivessemos morrido e tivessemos que ver como a vida segue sem a gente. Difícil é aprender a sobreviver.


A propósito, nennhum dos personagens de nenhum dos três livros sobrevive.


quinta-feira, 30 de abril de 2009

Europa sem grana

Vou ser sincera: essa coisa de viver no exterior tem seus altos e baixos. A verdade é que nunca tenho dinheiro pra fazer nada, mas sempre estou inventando alguma coisa pra fazer. Por isso, sempre entro o mês seguinte no negativo e nunca tenho dinheiro pra fazer nada. As pessoas acham que só porque estou morando na Europa estou rica. Sou obrigada a dizer: nunca estive mais pobre em toda a minha vida. Sinais disso? Tenho só uma calça jeans. Todas as outras que eu trouxe rasgaram. Meu tênis está começando a apresentar sinais de exaustão (leia-se, meu dedão em pouco tempo vai começar a aparecer). Percebi ontem quando saí na chuva que minha bota está rasgada... lógico que percebi isso depois que meu pé já estava todo molhado.

Ok.... é tudo uma questão de escolha. Mas prefiro gastar meu pouco dinheirinho viajando para lugares legais e tomando uma cerveja no fim de semana do que comprando roupas. E como disse no início, a vida aqui tem altos e baixos e os altos consistem basicamente dessas viagens e pequenas saídas bos fins de semana. É lógico que se tivesse um pouco mais de dinheiro isso tornaria as viagens ainda melhores, mas ainda assim afirmo que é possível se divertir com poucoo dinheiro na Europa. Exemplos? Nas grandes metrópoles, a maioria dos pontos turísticos é de graça. Estive em Paris e não gastei um centavo pra ver Notre Dame, a Sacre-Coeur, a Torre Eifel, o Arco do Triunfo. Além disso, em Londres os museus são de graça. Transporte? Sempre vale a pena pesquisar antes pra saber se a cidade tem alguma "promoção" pra turistas.... Em Paris é mais barato comprar 10 tickets de metrô de uma vez só. Em Londres tem vários esqueminhas de transporte também. E sempre há opção de andar pela cidade... bater perna mesmo. Se perder, se encontrar e descobrir lugares super legais que você não conheceria se seguisse apenas as rotas turísticas normais.

A verdade é que viajar pela Europa não é caro. Há companhias aéreas de baixo custo e sempre é possível arranjar um albergue baratinho pra ficar. Os trens são super confortáveis mas caros, pelo menos aqui na Alemanha. Ônibus é uma opção que pode durar mais um pouco, mas custa pouco dependendo da época do ano e das distâncias que desejamos percorrer. Enfim... sanduíches e chocolate na bolsa são obrigatórios pra não gastar um dinheiro desnecessário comendo no aeroporto ou nas estações de trem.

Enfim... tudo isso apenas pra dizer que estou voando pra Berlin amanhã, cheia de esperanças para um fim de semana promissor. Essas viagens sempre levantam o meu humor e não há dinheiro no mundo que pague isso.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Sobre "ser cult"

Ontem assisti o novo filme do Charlie Kaufman "Sinedoque - New York". Ok... já comecei o post sendo cult-bacaninha e assumindo que todo mundo sabe quem é Charlie Kaufman e fazendo quem não sabe se sentir um completo idiota... Mas essa era a idéia porque é exatamente disso que quero falar. Charlie Kaufman é o roteirista de "Adaptação", "Quero ser John Malkovich" e "Brilho eterno de uma mente sem lembranças". Virei fã dele depois de assistir esses três filmes e depois descobrir que seus roteiros geniais tinham sido escritos pela mesma pessoa. Por isso mesmo, assisti "Sinedoque - New York" na maior expectativa. Afinal além de ser "um roteiro do Charlie Kaufman" é o primeiro filme dirigido pelo mesmo. Minha opinião sobre o filme? Chato, longo e pretencioso. Assumo que fiquei metade do filme esperando o filme melhorar e algo de surpreendente acontecer, mas depois de uma hora e meia de filme, percebi que o filme era aquilo mesmo. Quando terminei de assitir o filme, minha primeira reação foi entrar no fórum do Charlie Kaufman para confirmar meus medos. Os cult-bacaninhas de plantão estavam lá elogiando massivamente o filme com palavras difíceis e espressões que provam o quão cultos eles são.


Me revoltei! Por vários motivos. O primeiro é que eu simplesmente não suporto gente que só entende de um assunto pra discutir com pessoas que entendem do mesmo assunto. (Ahn?) Eu explico... isso é muito comum no meio do cinema, mas vejo isso acontecer em outros meios também. Odeio pessoas que acham que entendem tudo de cinema e só discutem cinema com quem "está no nível delas". E pra medir esse nível elas fazem isso que eu fiz no início do post. Um diálogo típico começaria com uma frase bastante parecida com a que eu comecei este post:

- Você viu o filme novo de fulano de tal?

Essa frase na verdade significa "Se você não conhece fulano de tal, não tem cacife suficiente pra discutir cinema comigo". As pessoas as vezes parecem se esquecer que os seres humanos "normais" não vêem filmes por causa dos diretores. Isso é coisa de cinéfilo (e dessa gang, sim, estou passando a fazer parte). Elas parecem esquecer que nem todo mundo viu todos os filmes do mundo e que isso não torna a outra pessoa menos merecedora de opinião sobre os filmes que ela viu. Seria algo do gênero... você só pode discutir "Slumdog Millionaire" comigo (que ficou mais popular porque ganhou um Oscar) se você conhece um número x de diretores... caso contrário, sua opinião não vale de nada pra mim. Eu sei! É absurdo! Mas conheço muita gente assim... e não só com filmes, mas também com livros e outros "objetos de consumo" cultural.


Não estou dizendo que as pessoas não tem que ler ou assistir filmes interessantes! Mas acho que se você adquire um conhecimento ao invés de ficar gastando saliva em disputas de ego com pessoas que sabem tanto quanto você, deveria dividi-lo com quem não tem acesso a isso. Como assim? Do tipo, toda vez que falo do Charlie Kaufman como falei aqui no início e me olham com uma cara de "quem?", eu dou a explicação que dei aqui. Se a pessoa não assistiu nenhum desses três filmes, o que eu faço é emprestar um deles pra ela, ou assistimos junto e depois discutimos o filme. Acho mais interessante saber qual a reação das "pessoas comuns" aos filmes do que a opinião dos consumidores de cultura.


Chego então ao segundo momento da minha revolta: Porque fazer um filme assim????? Sério... eu li as críticas e até entendi tudo o que ele quis dizer com o filme, mas é um filme que obviamente não vai atingir o grande público porque fala de questões profundas através de uma linguagem confusa: ou seja, um filme destinado eternamente círculos de discussão cult-bacaninhas. Sério... o filme é tão chato que eu sei que nenhum ser humano normal aguentaria assistir ele até o final. E mesmo que a pessoa seja persistente como eu fui, vai chegar no final do filme com a sensação de duas horas perdidas na vida. Me lembrei de "Encontros e desencontros", outro clássico cult-bacaninha dirigido pela Sofia Copolla em que não acontece nada. Me lembrei ainda de "Cidade dos Sonhos", um filme do David Lynch que você assiste e tem que recorrer a umas 15 resenhas na internet pra entender o que era aquilo... Cinema não é isso! Não pra mim! É lógico que o cinema tem que levar reflexão ao seu público, mas pra isso ele precisa chegar ao público... Quando um diretor resolve ser sofisticado demais na "construção de uma linguagem poética" que corrobore com o conceito do filme, o filme fica chato e impossivel de ser entendido. E exatamente por isso se torna um sucesso "cult". Porque se você foi capaz de entender aquele filme, você é um cara que tem conceito pra discutir cinema. Fala sério!

domingo, 19 de abril de 2009

Please Don't Leave Me


Pra não acharem que eu mudei demais e me tornei muito política, crítica e chata com essa estadia na Alemanha, posto meu novo video favorito: Pink - Please don't leave me.
Porém, como não poderia deixar de ser, preciso justificar-me por postar esse clip agora. Primeiramente, porque eu simplemente amo esses clipes sarcásticos-vingativos, tipo Smile (Lily Allen), Sexed Up (Robbie Williams) ou Cry me a river (Justin Timberlake). Em segundo lugar, porque adoro o fato das músicas certas aparecerem na minha vida no momento certo. Terceiro, porque o clipe é simplesmente fantástico. Raramente vejo clips tão perfeitos pro que eles querem dizer sem ser óbvios... Sério, esse é o tipo de clip que eu queria ter dirigido! Os figurinos e as maquiagens são maravilhosos... a progressão do roteiro, a atuação da Pink com as caras de mais inocente do mundo... e principalmente a clara referência ao filme "O iluminado". Enfim... deixo vocês com o clip e a tradução da letra....


Por favor, não me deixe.

Eu não sei se eu posso gritar mais alto.
Quantas vezes eu te expulsei daqui ou disse algum insulto?
Eu posso ser muito má, mas realmente não quero
Eu sou realemente incapaz de qualquer coisa
Eu posso te cortar em pedacinhos quando meu coração está partido
Por favor, não me deixe.
Por favor, não me deixe.
Eu sempre digo que não preciso de você, mas sempre voltamos para o mesmo lugar:
Por favor, não me deixe.
Como eu me tornei tão nojenta?
O que é que você faz pra com que eu aja assim?
Eu nunca fui tão má!
Você não percebe que é só um concurso em que ganha quem bate mais forte?
Mas querido, eu não quero dizer isso.
Mesmo. Eu prometo.
Por favor, não me deixe.
Por favor, não me deixe.
Eu sempre digo que não preciso de você, mas sempre voltamos para o mesmo lugar:
Por favor, não me deixe
Eu esqueci de dizer alto o quão belo você realmente é pra mim
Eu não posso ficar sem
Você é meu perfeito saquinho de pancados
E eu preciso de você.
Desculpas!
Por favor, por favor não me deixe.

sábado, 18 de abril de 2009

Medo, nazis e a mídia

Estava há algum tempo com vontade de voltar a escrever um blog, mas ainda faltava uma motivação maior. Hoje, lendo o jornal, essa motivação veio por duas pequenas notas no jornal. A primeira, ameaçava a minha segurança e a segunda era uma nova notícia sobre um assunto também noticiado numa pequena nota há algumas semanas.

Primeiramente, devo dizer que ler o jornal na pequena cidade alemã que eu moro é uma experiência diferente de ler "O Globo" no Rio de Janeiro. Comecei a ler o jornal para melhorar o meu alemão e no início o lia com o dicionário do lado. Hoje, embora não conheça todas as palavras, consigo entender bem as notícias. Aprendi a gostar de política, até porque está é a única parte interessante do jornal... O resto fala sobre eventos da cidade e das redondezas e outras pequenas coisas inúteis. Koblenz, a cidade onde moro, é bastante pacífica. Quando alguém é assaltado ou um carro é roubado, vira notinha no jornal. Foi dessa forma que li hoje a notícia que me apavorou completamente. Um alemão-romeno foi espancado por um grupo de neo-nazi as quatro horas da manhã no bairro onde moro. Nos cinco meses que moro aqui foi a primeira vez que senti um medo de sair na rua semelhante ao que as vezes sentia no Rio. Aqui, quando saio a noite, volto cantando ou conversando em português com uma das minhas amigas brasileiras. Um ato simples que pode colocar minha vida em risco...

Enfim, a segunda "notinha" no jornal, falava sobre as causas da morte de um manifestante morto pela polícia em Londres no dia da cúpula do G20. Me lembro que uma semana antes da cúpula do G20, o jornal só falava disso. Páginas e páginas explicando sobre o G20, os países participantes, as expectativas sobre a cúpula desse ano que "mudaria os rumos da economia mundial", Barack Obama, Angela Merkel, Sarkozy. No dia seguinte à reunião o jornal estava lotado de notícias e fotos dos presidentes, primeiros ministros e primeiras damas. E uma pequena nota noticiava que um manifestante havia sido morto por um policial numa demonstração contra o G20. Sério, queria entender o motivo pelo qual o jornal enche uma página com a foto das mulheres do presidente dos EUA e da França, comentando sua elegância e outras coisas completamente supérfluas e gasta apenas algumas linhas noticiando a morte de um manifestante por um policial! Não me conformo com esse tipo de parcialidade da mídia! Um policial matou uma pessoa! Isso deveria estar na capa do jornal e não numa pequena nota...

Enfim... por hoje, deixo apenas esses dois comentários para reflexões futuras. É interessante perceber o quanto a mídia manipula as informações e tentar enxergar o que está por trás da maneira como as notícias são entregues ao seu "público alvo".