quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Abismo

Ouviu aquelas palavras e sua primeira reação foi correr. Desceu as escadas tropeçando nas próprias pernas. Na descida da ladeira já não sentia seus membros inferiores e quando caiu todo seu corpo estava adormecido. Queria livrar-se daquilo, mas quanto mais desejava, mais alto as palavras se repetiam. Caia cada vez mais. Despencava, insensível, naquele abismo sem fim. Não tinha controle de seus sentimentos, muito menos de sua ações. Era como se seu corpo pertencesse ao abismo. Queria sair dali, mas era sugada por uma força maior.

No dia seguinte, acordou em sua cama. O corpo ferido da cabeça aos pés. Não reconheceu se próprio rosto no espelho. Via somente o abismo. Aos poucos, recuperou os movimentos dos dedos, das mãos, das pernas. Eram seus novamente. Teve medo ao tentar andar. Mas, por mais que tentasse, era incapaz de lembrar as palavras que a derrubaram. Não passavam de ruídos distantes, sem nenhum sentido. No espelho, primeiramente reconheceu o olhar, mais tarde o sorriso e num curto espaço de tempo já andava novamente. Passos seguros. Mas no fundo dos seus olhos ainda habitava o abismo.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

menos do mesmo

Cansei do ritmo
da simetria
da rima
da perfeição

Cansei dos rótulos
do sapato fechado
da gravata apertada
do padrão

Cansei do monocromático
do ton-sur-ton
do politicamente correto
da decisão


Cansei do espelho
do axioma
da aparência 
da impressão

Quero mais diferença
mais profundidade
menos do mesmo
mais imperfeição

Quero mais paradoxos
mais falácias
menos realismo
mais abstração

Quero mais potência
mais sinestesia
menos preciosismo
mais opinião


Melhor me jogar!



foto de Noélia Albuquerque

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

instantâneo

Encontrei um instante de felicidade ao te ver sorrir
de longe.

se ao menos de perto...

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Flaneur 23.10

imagens do vazio rondam minha cabeça
procuro um lugar, um caminho
um objetivo qualquer
teria ele se perdido no passado?
ou estaria aqui, bem diante dos meus olhos
e eu, cega por outros desejos, incapacitada de vê-lo?

a poesia, como o teatro
só importa quando preenchida de verdade
talvez o excesso de verdade seja o problema
da minha vida
do meu presente,
dos meus desejos...
transferir esta verdade pra arte talvez seja a solução...
mas se ela não estiver transbordando na vida,
como pode se tornar verdade na moldura?
 
agora, só sei o que não quero:
não quero me acomodar
não quero viver de migalhas
não quero passar pelo mundo sem o prazer de ter vivido intensamente
quero somente jogar essas ideias no papel
essas palavras que tanto me atormentam a mente
e não me deixam dormir
e quero acordar vendo essas ideias tomando o mundo
virando imagens, invadindo palcos, ruas, corações

o desejo de realizar é só o início
me faltam forças nas pernas para colocar os pés no chão e dar o primeiro passo.
preciso tirar os sapatos e começar a tentar...




segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Carcaça

corpos transparentes
corpos invisíveis
corpos feitos de carne e osso
corpos palpáveis
pernas, braços
corpos reais
suor, sangue
corpos imóveis
corpos cansados
músculos, articulações
corpos em movimento
diversos corpos num só corpo
corpos invisíveis
corpos transparentes que se reconhecem
corpos transparentes que se entendem
corpos divisíveis
diversos corpos - um corpo
um corpo - meus corpos
corpo visível
indivisível
corpos
corpo
cor
sem cor
transparente
invisível
corpos invisíveis que se vêem.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

fazemos fantasias fantásticas! (pronta-entrega)


Fantasia-fantasma.
Fantásticas fantasias!
Fantasmas fantásticos!
fontes de fantasia:
fantasmas
fantomas
sintomas
hematomas.
Fantasmas focados,
Fantasmas alados
Asas fantásticas:
fantasias!