Ouviu aquelas palavras e sua primeira reação foi correr. Desceu as escadas tropeçando nas próprias pernas. Na descida da ladeira já não sentia seus membros inferiores e quando caiu todo seu corpo estava adormecido. Queria livrar-se daquilo, mas quanto mais desejava, mais alto as palavras se repetiam. Caia cada vez mais. Despencava, insensível, naquele abismo sem fim. Não tinha controle de seus sentimentos, muito menos de sua ações. Era como se seu corpo pertencesse ao abismo. Queria sair dali, mas era sugada por uma força maior.
No dia seguinte, acordou em sua cama. O corpo ferido da cabeça aos pés. Não reconheceu se próprio rosto no espelho. Via somente o abismo. Aos poucos, recuperou os movimentos dos dedos, das mãos, das pernas. Eram seus novamente. Teve medo ao tentar andar. Mas, por mais que tentasse, era incapaz de lembrar as palavras que a derrubaram. Não passavam de ruídos distantes, sem nenhum sentido. No espelho, primeiramente reconheceu o olhar, mais tarde o sorriso e num curto espaço de tempo já andava novamente. Passos seguros. Mas no fundo dos seus olhos ainda habitava o abismo.
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