quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A colecionadora

Na infância ganhou um cofrinho de presente e colocava dentro dele cada moedinha de um centavo que recebia de troco. Durante anos apenas moedinhas de um centavo. E o cofrinho foi ficando pesado. Nenhuma moeda de cinco ou dez centavos. Apenas moedinhas de um centavo.

Mudou-se e o cofrinho ficou perdido durante muito tempo dentro de uma daquelas caixas que não se abrem após mudanças. Nunca trocou as moedinhas de um centavo. Nunca contabilizou quantas moedinhas tinha juntado. Muitas, de fato. Com o passar dos anos o dinheiro desvalorizou e aquelas moedinhas de um centavo ficaram esquecidas no cofrinho.


Um dia, muitos anos mais tarde chegou em casa e encontrou o cofrinho em cima da mesa. Vazio. Onde foram parar suas moedinhas? Sentiu-se tão vazia quanto o seu velho cofrinho. Nem lembrava da sua existência mas deparar-se com ele assim, vazio, fez com que percebesse algo: Já na vida adulta, substituira sua coleção. Nenhuma moeda a mais: homens. Não perdera, porém, a mania de colecionar coisas sem valor algum. Todos os homens que passaram na sua vida valiam tanto quanto aquelas moedinhas de um centavo.(Isso não a impediu de colecioná-los mesmo assim)

Será a menina um dia capaz de trocar as moedas de um centavo por notas mais valiosas? Ou estará condenada a colecionar para sempre moedas sem valor?