segunda-feira, 30 de julho de 2012

Happy end

escrevo histórias de amor o tempo todo na minha cabeça
dessas que não fazem sentido
entre estranhos
entre conhecidos
pessoas que nunca se viram
pessoas que se vêem sempre
pessoas que sempre se cruzam, mas não se conhecem:

a moça que passa na rua é desenhada secretamente
pelo desenhista da esquina
a cada dia ele acrescenta um novo detalhe
que observa quando ela passa na sua frente sem notá-lo
pela manhã.

o rapaz pede informações numa banca de jornal
onde uma senhora bem intencionada oferece para levá-lo
ao seu destino
mal sabe ele o quanto ela se sente só.

o trocador entrega o troco para a moça elegante
e espera que no dia seguinte
ela entre novamente no seu ônibus
como fez ontem e anteontem.
ele nem imagina que todas as manhãs ela espera
o ônibus dele para ir trabalhar...

na minha cabeça escrevo o tempo todo
histórias de amor
dessas que não fazem sentido:
com final feliz.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Lembranças



As vezes as lembranças me encontram.
viro a esquina
e lá está: meu passado.
um outro lugar, um outro alguém
outros encontros.

As vezes as lembranças me invadem
lá estou
e de repente: não mais.
As lembranças me invadem, corroem
me desfazem em mim.

As vezes as lembranças me perdem
e subitamente
ouço vozes de quem não está
vejo faces que não me cercam
e me pego sorrindo, chorando
duvidando de mim.

As vezes me encontro com minhas lembranças
em um lugar secreto
só meu e delas: do outro lado
do portal invisivel
que separa o agora do que nunca foi
o agora do que já passou
o agora do que deveria ser.

somente eu
e minhas lembranças

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Para Roma com Amor



Woody Allen terá que se esforçar muito para fazer algo tão grandioso quanto Meia Noite em Paris. Mas, como um diretor que filma um novo roteiro por ano, ele mesmo já admitiu que prefere “trabalhar o tempo todo em vez de fazer de seus filmes algum evento especial de três em três anos.” O importante para ele é ter uma ideia e desenvolvê-la de forma satisfatória para trabalhar continuamente. 
Tendo dito isto, posso agora elogiar Para Roma, com Amor  como um filme delicioso onde diversas histórias são contadas simultaneamente. A verdade é que fica a impressão de que Woody Allen não conseguiu decidir-se por um único fio narrativo e acabou seguindo todos, sem desenvolvê-los completamente. Ainda assim, o filme é bastante interessante. A história mais encantadora é a do arquiteto – vivido por Alec Baldwin – e sua relação enigmática com um personagem muito parecido com ele mesmo no passado (Jesse Eisenberg). Em todas as histórias, um conhecedor de Woody Allen irá reconhecer outros filmes já feitos pelo diretor: há um quê de Vicky Cristina Barcelona no triângulo amoroso que surge no núcleo de Eisenberg, as questões de Celebridades reaparecem no núcleo estrelado por Roberto Begnini, a personagem de Ellen Page é uma atriz, cuja carreira ainda não decolou, como diversos outros personagens de Woody, etc...  Além disso, há uma multiplicação da personalidade de Allen, já que em cada um dos núcleos há um personagem fazendo o papel que geralmente corresponde a ele, inclusive ele próprio. Aliás, seu personagem continua sendo o mesmo desde o início de sua carreira, porém mais velho e, talvez por isso, cada vez mais divertido.
No mais, há um certo desleixo na fotografia.  Woody Allen costumava ter excelentes diretores de fotografia e esse filme deixa a desejar nesse quesito.  E numa cidade tão linda como Roma...
De qualquer forma, recomendo o filme, especialmente para os “iniciantes” em Woody Allen e para os verdadeiros fãs, a quem eu sei que as pequenas redundâncias e repetições da carreira do autor nesse filme não irão incomodar. 

Assista ao trailer de "Para Roma Com Amor"