quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Cronos e a mulher de areia


15:00
O Senhor do tempo dormia.
3 minutos mais tarde - o encontro:
e ela não compreendia
o conceito de tempo
que o Senhor do Tempo tinha.

15:30
depois de tanto tempo
puderam conversar
sobre a vida
sobre o mar
filosofia, música
cidades, costumes
palavras...
palavras...

(e o tempo, antes tão lento
nem se via que passava.
ao som das ondas do mar
o silêncio pouco incomodava)

17:30
O Senhor do tempo
A mulher de areia
nada mais.
apenas cores
muitas cores.


... e descobriram que podiam tocar o céu
e que eram feitos de ar
de água
de nuvens
de areia
e de tempo.






sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Ausencia (presente!)

Rostos embaçados,
copos embaçados,
mundos embaçados
e você.

O mundo devagar.
O mundo muito rápido.
O mundo todo...
e você.

Todas as cores do mundo.
Todos os dourados do sol.
e o verde dos seus olhos...
novamente: você.

Os copos vazios,
as cervejas vazias...
As pessoas vazias.
e você?

Tudo isso...
tudo isso não é
nada disso
sem você.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios












          Antes de começar a sessão, Beto Brant apresentando o filme avisa ao público: “esse é um filme de amor”. E é mesmo. Um belo filme sobre o amor, suas perdas e danos. Apesar disso, não perde aquela pitada habitual dos filmes de Brant: sexo, drogas e violência. Existe ainda um atravessamento entre a cena e o público, através de olhares direto para a câmera – coisa que jáacontecia em O invasor. De certa forma, o filme é uma continuação estética do trabalho deste diretor.
 
          O filme começa com uma cena enigmática de uma nativa nua, na beira de um rio, posando para a câmera. A sequência é parcialmente justificada com a apresentação do primeiro personagem: Cauby, um fotógrafo “forasteiro” em uma cidade de interior paraense. A palavra “forasteiro” é, mais tarde utilizada por um outro personagem do filme e demarca com precisão a divisão de espaços e pertencimentos naquele lugar. A narrativa se dará entre três personagens principais – todos “forasteiros” vindos do “sul-maravilha”. A apresentação dos personagens é feita por partes: primeiro Cauby é apresentado como fotógrafo para o jornal local, então conhecemos Lavínia e presenciamos a paixão crescente entre os dois. Enquanto o relacionamento conturbado dos dois se desenvolve, são mostradas cenas cotidianas da pequenacidade. Em uma destas cenas, um pastor fala com a população sobre o desmatamento da região. Algum tempo depois, o espectador vêm a descobrir que este pastor é o marido de Lavínia, e através de um flashback é apresentado à história dos dois.
 
          De narrativa complexa e com diversas reviravoltas, o filme prende a atenção do espectador do início ao fim, especialmente por causa da excelente interpretação de Camila Pitanga. A atriz mergulha fundo na alma de Lavínia, personagem complexa que passa por mudanças bruscas durante a narrativa. O filme, assim como O invasor utiliza-se do espaço físico como parte da narrativa e, talvez por isso mesmo, faz uma sutil crítica ao desmatamento. No fim, a metáfora surge com a morte do agitador político, que tem como consequência a mutilação e a perda de memória. Seria este o futuro da floresta amazônica? Ou ainda há esperança, como poderia vir a indicar o olhar direto e provocador que Lavínia lança ao público na cena final?

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

é tarde.

É tarde.
meia vida se passou
(para alguns, uma vida inteira)
é tarde.
até quando o mundo gira
para mim?

são oito da manhã.
e já é tarde.
são oito da manhã
e ainda parece ontem
tenho medo de amanhã
e, contudo, amanhã já é hoje.

fecho os olhos e são oito da noite
fecho os olhos e são oito da manhã
São oito da manhã!
meia vida se passou...
é tão tarde!
quanta vida falta passar
pra mim?

terça-feira, 28 de junho de 2011

Cultura (só com) Capital

Eu sei... tem meses que abandonei o blog, mas este Fim de semana aconteceu algo que me deu vontade de escrever algumas palavrinhas para meus poucos leitores. Porque eu acho que certas coisas tem que ser ditas e não devem se abafadas.

Tentarei ser breve.

No fim de semana retrasado estava programado para acontecer em Santa Teresa o Santa Música, festival de Músical alinhado com a proposta do festival francês Fê te de La Musique. O evento propõe "shows gratuitos e independentes" e diversas outras cidades no mundo aderiram ao movimento. Mas no Rio de Janeiro as coisas são um pouco diferentes... o festival foi cancelado devido a uma liminar concedida pelo Ministério Público Estadual. A questão causou muita discussão nas redes sociais, mas foi rapidamente esfriada pela grande mídia.

No último fim de semana aconteceria o Cinescada. O evento pretendia apresentar gratuitamente filmes independentes em um telão na escada entre as ruas Joaquim Murtinho e Francisco Muratori, na subida de Santa Teresa. A tela estava montada... e a ação foi proibida pela Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Reflitam.

Eventos gratuitos no Rio de Janeiro são poucos e só servem para divulgar artistas já conhecidos... Ainda assim, a grande maioria dos eventos culturais na Cidade do Rio de Janeiro são PAGOS. E o preço geralmente é salgado. Aí, quando se promovem eventos gratuitos e independentes, estes são sumariamente PROIBIDOS E REPRIMIDOS pelas autoridades. E ninguém fala nada sobre isso.

Para não me estender muito, deixo vocês com o video de divulgação do Cinescada, que eu acho que diz muito do que estou tentando dizer com palavras...
By The Way... eles ainda nem sabiam que a polícia iria proibir o evento.
Assistam, comentem e divulguem.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A colecionadora

Na infância ganhou um cofrinho de presente e colocava dentro dele cada moedinha de um centavo que recebia de troco. Durante anos apenas moedinhas de um centavo. E o cofrinho foi ficando pesado. Nenhuma moeda de cinco ou dez centavos. Apenas moedinhas de um centavo.

Mudou-se e o cofrinho ficou perdido durante muito tempo dentro de uma daquelas caixas que não se abrem após mudanças. Nunca trocou as moedinhas de um centavo. Nunca contabilizou quantas moedinhas tinha juntado. Muitas, de fato. Com o passar dos anos o dinheiro desvalorizou e aquelas moedinhas de um centavo ficaram esquecidas no cofrinho.


Um dia, muitos anos mais tarde chegou em casa e encontrou o cofrinho em cima da mesa. Vazio. Onde foram parar suas moedinhas? Sentiu-se tão vazia quanto o seu velho cofrinho. Nem lembrava da sua existência mas deparar-se com ele assim, vazio, fez com que percebesse algo: Já na vida adulta, substituira sua coleção. Nenhuma moeda a mais: homens. Não perdera, porém, a mania de colecionar coisas sem valor algum. Todos os homens que passaram na sua vida valiam tanto quanto aquelas moedinhas de um centavo.(Isso não a impediu de colecioná-los mesmo assim)

Será a menina um dia capaz de trocar as moedas de um centavo por notas mais valiosas? Ou estará condenada a colecionar para sempre moedas sem valor?