sábado, 10 de dezembro de 2011

Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios












          Antes de começar a sessão, Beto Brant apresentando o filme avisa ao público: “esse é um filme de amor”. E é mesmo. Um belo filme sobre o amor, suas perdas e danos. Apesar disso, não perde aquela pitada habitual dos filmes de Brant: sexo, drogas e violência. Existe ainda um atravessamento entre a cena e o público, através de olhares direto para a câmera – coisa que jáacontecia em O invasor. De certa forma, o filme é uma continuação estética do trabalho deste diretor.
 
          O filme começa com uma cena enigmática de uma nativa nua, na beira de um rio, posando para a câmera. A sequência é parcialmente justificada com a apresentação do primeiro personagem: Cauby, um fotógrafo “forasteiro” em uma cidade de interior paraense. A palavra “forasteiro” é, mais tarde utilizada por um outro personagem do filme e demarca com precisão a divisão de espaços e pertencimentos naquele lugar. A narrativa se dará entre três personagens principais – todos “forasteiros” vindos do “sul-maravilha”. A apresentação dos personagens é feita por partes: primeiro Cauby é apresentado como fotógrafo para o jornal local, então conhecemos Lavínia e presenciamos a paixão crescente entre os dois. Enquanto o relacionamento conturbado dos dois se desenvolve, são mostradas cenas cotidianas da pequenacidade. Em uma destas cenas, um pastor fala com a população sobre o desmatamento da região. Algum tempo depois, o espectador vêm a descobrir que este pastor é o marido de Lavínia, e através de um flashback é apresentado à história dos dois.
 
          De narrativa complexa e com diversas reviravoltas, o filme prende a atenção do espectador do início ao fim, especialmente por causa da excelente interpretação de Camila Pitanga. A atriz mergulha fundo na alma de Lavínia, personagem complexa que passa por mudanças bruscas durante a narrativa. O filme, assim como O invasor utiliza-se do espaço físico como parte da narrativa e, talvez por isso mesmo, faz uma sutil crítica ao desmatamento. No fim, a metáfora surge com a morte do agitador político, que tem como consequência a mutilação e a perda de memória. Seria este o futuro da floresta amazônica? Ou ainda há esperança, como poderia vir a indicar o olhar direto e provocador que Lavínia lança ao público na cena final?

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