Entrou na casinha vazia. Sobre a mesa da cozinha, bolo de fubá fresco. Sentiu cheiro de café fresco e chamou pela mãe. Atravessou o corredor onde a tinta da parede descascava. Chegou àquele quarto que fora seu durante anos. Nada além da cama feita e uma mesa redonda, com uma caixa decorada sobre ela. Ao lado da porta, numa vitrola, um lado de um disco terminara de ser tocado e o braço da vitrola voltava a descansar. Deixa a mala no chão, ao lado da vitrola. Ele vira o disco, limpa a agulha com um sopro e coloca o lado B para tocar. "Good day sunshine, good day sunshine".
Ele ri e vai até a janela. Ninguém do lado de fora. Volta para a mesa redonda onde está a caixinha decorada. Abre a caixa, colocando a tampa lentamente ao lado. Retira de dentro da caixa um baralho. Ri. Lembra-se de sua mãe em sua infância, que em momentos de crise sentava-se naquela mesa no seu quarto, achando que ele dormia e abria o baralho em forma de cruz. Ele, debaixo do cobertor, apenas olhava sua mãe sob a luz da lua que entrava pela janela. Ela sempre lhe parecera tão bela naqueles momentos misteriosos... Abre a caixa do baralho e embaralha as cartas distraidamente. Nunca entendera o que aquelas cartas significavam ou que resposta a mãe procurava. "But you don't get me! You don't get me!"
Deixa as cartas de lado e olha novamente para a caixa. Uma rosa vermelha. Pega a rosa e espeta o dedo em um de seus espinhos. Instintivamente coloca o dedo na boca. Lembra-se de seu pai lhe ensinando a plantar rosas no jardim e do número infinito de vezes em que o pai tivera exatamente a mesma reação. Ele apenas rira de seu pai. Agora percebe como tudo se repete. Sacode a cabeça como que acordando de um sonho. Coloca a rosa de lado e olha novamente para a caixa. Um chapéu. Sorri ternamente ao ver esse objeto tão inesperado. Lembra-se de sua ex-namorada na noite chuvosa em que se conheceram. Lembra-se de como ela pegou na mão dele e o fez atravessar a rua entre os carros e entrar num ônibus. Sente ela atrás dele, encostando a boca no seu ouvido e sussurando "Isso é um sequestro", depois tirando o chapéu e usando ele pra secar o rosto molhado. "And in her eyes you see nothing. No sign of love behind the tears".
Na mão dele está o chapéu molhado de chuva. Pensa que ela saiu de sua vida da mesma maneira inesperada que tinha chegado e vê a si mesmo encolhido na cama chorando abraçado com o chapéu. Se vê jogando o chapéu longe e se encolhendo ainda mais na cama. Vê sua irmã entrando no quarto e sentando ao seu lado e lembra-se da maneira como a expulsou do quarto com gritos porque não gostava de chorar na frente de ninguém. Fecha os olhos com força e volta a realidade. O chapéu está no chão. "Well, well, well, well. You're feeling fine"
Olha novamente para dentro da caixa. Uma foto. Ele e a irmã crianças sentados na porta de casa rindo. Ri pensando na maneira como irmãos sempre brigam, mas viram bicho quando alguém machuca o outro. É como se só ele tivesse o direito de machucar sua irmã e vice-versa. Coloca a foto ao lado da caixa. Olha para dentro da caixa e vê um casaco velho. Vê a si mesmo sentado na cama, vestindo o casaco e lendo. Vê a si mesmo na janela vestindo aquele mesmo casaco e fumando. Se vê novamente na cama, cercado de livros, escrevendo. Se vê encostado na janela bebendo uma cerveja. "I don't mind. I could wait forever, I got time".
Veste o casaco. Olha para a caixa novamente. Vazia. Anda até a janela. Acende um cigarro. "Ooh, then I suddenly see you".
Vê a mãe chegando no portão, carregando uma bolsa de legumes e verduras. Fica fumando na janela, esperando que a mãe perceba sua presença. Ela entra na casa sem notá-lo na janela ao lado. Ele apaga o cigarro. Respira fundo e sai do quarto. A mesa está vazia. "Or play the game existence to the end of the beginning..."
O disco termina de tocar e o braço da vitrola volta a descançar.
oia moça...vou te confessar. se o texto tivesse acabado na primeira parte, penso q eu não acharia o texto tão bom.
ResponderExcluirporém, ja no início deste segundo, notei a mudança da personagem central e isto já me deixou interessado. e com o decorrer da história, fui notando quão instigante vc tornou a trama. as coisas um tanto em turnback...
sua idéia foi mto bem elaborada, e está bem legal o resultado. esta segunda parte deu um ar artístico q faltava a primeira, acredito.
está de parabéns, adorei...
ps: no final rolou uma adaptada no verso da música né (e q alias, q verso 'FODA')
bEIJOS!!
Faço minhas as palavras do Philot.. adorei a "virada de disco".Tive a sensação de estar dentro das casas, nos dois momentos. De qqer forma é triste querida... escreva algo mais alegre da próxima vez. bjos
ResponderExcluirLindo...
ResponderExcluirA sua cara...
Amiga... vc ta arrebentando...
Como disse o Bernardo aí em cima... ta meio melancólico...
Mas quem é que não anda melancólico ultimamente?
E acho que a inspiração vem sempre nessas horas...
Portanto...
Achei o máximo!
T amo...
Saudade de vc!
amigaaaa, m manda um bjo na festa do oscar? hahahahahaaaaaa
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