segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Um poema no qual tropecei por aí...

UM PEIXE

Um pedaço de trapo que fosse
Atirado numa estrada
Em que todos pisam
Um pouco de brisa
Uma gota de chuva
Uma lágrima
Um pedaço de livro
Uma letra ou um número
Um nada, pelo menos
Desesperadamente nada.

(Pagu)

2 comentários:

  1. NOTHING
    Pagu/Patricia Rehder Galvão
    Publicado n'A Tribuna, Santos/SP, em 23/09/1962
    Nada nada nada
    Nada mais do que nada
    Porque vocês querem que exista apenas o nada
    Pois existe o só nada
    Um pára-brisa partido uma perna quebrada
    O nada
    Fisionomias massacradas
    Tipóias em meus amigos
    Portas arrombadas
    Abertas para o nada
    Um choro de criança
    Uma lágrima de mulher à-toa
    Que quer dizer nada
    Um quarto meio escuro
    Com um abajur quebrado
    Meninas que dançavam
    Que conversavam
    Nada
    Um copo de conhaque
    Um teatro
    Um precipício
    Talvez o precipício queira dizer nada
    Uma carteirinha de travel's check
    Uma partida for two nada
    Trouxeram-me camélias brancas e vermelhas
    Uma linda criança sorriu-me quando eu a abraçava
    Um cão rosnava na minha estrada
    Um papagaio falava coisas tão engraçadas
    Pastorinhas entraram em meu caminho
    Num samba morenamente cadenciado
    Abri o meu abraço aos amigos de sempre
    Poetas compareceram
    Alguns escritores
    Gente de teatro
    Birutas no aeroporto
    E nada.

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  2. esse eu não tropecei
    eu mais que...dei de cara

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