quinta-feira, 30 de abril de 2009

Europa sem grana

Vou ser sincera: essa coisa de viver no exterior tem seus altos e baixos. A verdade é que nunca tenho dinheiro pra fazer nada, mas sempre estou inventando alguma coisa pra fazer. Por isso, sempre entro o mês seguinte no negativo e nunca tenho dinheiro pra fazer nada. As pessoas acham que só porque estou morando na Europa estou rica. Sou obrigada a dizer: nunca estive mais pobre em toda a minha vida. Sinais disso? Tenho só uma calça jeans. Todas as outras que eu trouxe rasgaram. Meu tênis está começando a apresentar sinais de exaustão (leia-se, meu dedão em pouco tempo vai começar a aparecer). Percebi ontem quando saí na chuva que minha bota está rasgada... lógico que percebi isso depois que meu pé já estava todo molhado.

Ok.... é tudo uma questão de escolha. Mas prefiro gastar meu pouco dinheirinho viajando para lugares legais e tomando uma cerveja no fim de semana do que comprando roupas. E como disse no início, a vida aqui tem altos e baixos e os altos consistem basicamente dessas viagens e pequenas saídas bos fins de semana. É lógico que se tivesse um pouco mais de dinheiro isso tornaria as viagens ainda melhores, mas ainda assim afirmo que é possível se divertir com poucoo dinheiro na Europa. Exemplos? Nas grandes metrópoles, a maioria dos pontos turísticos é de graça. Estive em Paris e não gastei um centavo pra ver Notre Dame, a Sacre-Coeur, a Torre Eifel, o Arco do Triunfo. Além disso, em Londres os museus são de graça. Transporte? Sempre vale a pena pesquisar antes pra saber se a cidade tem alguma "promoção" pra turistas.... Em Paris é mais barato comprar 10 tickets de metrô de uma vez só. Em Londres tem vários esqueminhas de transporte também. E sempre há opção de andar pela cidade... bater perna mesmo. Se perder, se encontrar e descobrir lugares super legais que você não conheceria se seguisse apenas as rotas turísticas normais.

A verdade é que viajar pela Europa não é caro. Há companhias aéreas de baixo custo e sempre é possível arranjar um albergue baratinho pra ficar. Os trens são super confortáveis mas caros, pelo menos aqui na Alemanha. Ônibus é uma opção que pode durar mais um pouco, mas custa pouco dependendo da época do ano e das distâncias que desejamos percorrer. Enfim... sanduíches e chocolate na bolsa são obrigatórios pra não gastar um dinheiro desnecessário comendo no aeroporto ou nas estações de trem.

Enfim... tudo isso apenas pra dizer que estou voando pra Berlin amanhã, cheia de esperanças para um fim de semana promissor. Essas viagens sempre levantam o meu humor e não há dinheiro no mundo que pague isso.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Sobre "ser cult"

Ontem assisti o novo filme do Charlie Kaufman "Sinedoque - New York". Ok... já comecei o post sendo cult-bacaninha e assumindo que todo mundo sabe quem é Charlie Kaufman e fazendo quem não sabe se sentir um completo idiota... Mas essa era a idéia porque é exatamente disso que quero falar. Charlie Kaufman é o roteirista de "Adaptação", "Quero ser John Malkovich" e "Brilho eterno de uma mente sem lembranças". Virei fã dele depois de assistir esses três filmes e depois descobrir que seus roteiros geniais tinham sido escritos pela mesma pessoa. Por isso mesmo, assisti "Sinedoque - New York" na maior expectativa. Afinal além de ser "um roteiro do Charlie Kaufman" é o primeiro filme dirigido pelo mesmo. Minha opinião sobre o filme? Chato, longo e pretencioso. Assumo que fiquei metade do filme esperando o filme melhorar e algo de surpreendente acontecer, mas depois de uma hora e meia de filme, percebi que o filme era aquilo mesmo. Quando terminei de assitir o filme, minha primeira reação foi entrar no fórum do Charlie Kaufman para confirmar meus medos. Os cult-bacaninhas de plantão estavam lá elogiando massivamente o filme com palavras difíceis e espressões que provam o quão cultos eles são.


Me revoltei! Por vários motivos. O primeiro é que eu simplesmente não suporto gente que só entende de um assunto pra discutir com pessoas que entendem do mesmo assunto. (Ahn?) Eu explico... isso é muito comum no meio do cinema, mas vejo isso acontecer em outros meios também. Odeio pessoas que acham que entendem tudo de cinema e só discutem cinema com quem "está no nível delas". E pra medir esse nível elas fazem isso que eu fiz no início do post. Um diálogo típico começaria com uma frase bastante parecida com a que eu comecei este post:

- Você viu o filme novo de fulano de tal?

Essa frase na verdade significa "Se você não conhece fulano de tal, não tem cacife suficiente pra discutir cinema comigo". As pessoas as vezes parecem se esquecer que os seres humanos "normais" não vêem filmes por causa dos diretores. Isso é coisa de cinéfilo (e dessa gang, sim, estou passando a fazer parte). Elas parecem esquecer que nem todo mundo viu todos os filmes do mundo e que isso não torna a outra pessoa menos merecedora de opinião sobre os filmes que ela viu. Seria algo do gênero... você só pode discutir "Slumdog Millionaire" comigo (que ficou mais popular porque ganhou um Oscar) se você conhece um número x de diretores... caso contrário, sua opinião não vale de nada pra mim. Eu sei! É absurdo! Mas conheço muita gente assim... e não só com filmes, mas também com livros e outros "objetos de consumo" cultural.


Não estou dizendo que as pessoas não tem que ler ou assistir filmes interessantes! Mas acho que se você adquire um conhecimento ao invés de ficar gastando saliva em disputas de ego com pessoas que sabem tanto quanto você, deveria dividi-lo com quem não tem acesso a isso. Como assim? Do tipo, toda vez que falo do Charlie Kaufman como falei aqui no início e me olham com uma cara de "quem?", eu dou a explicação que dei aqui. Se a pessoa não assistiu nenhum desses três filmes, o que eu faço é emprestar um deles pra ela, ou assistimos junto e depois discutimos o filme. Acho mais interessante saber qual a reação das "pessoas comuns" aos filmes do que a opinião dos consumidores de cultura.


Chego então ao segundo momento da minha revolta: Porque fazer um filme assim????? Sério... eu li as críticas e até entendi tudo o que ele quis dizer com o filme, mas é um filme que obviamente não vai atingir o grande público porque fala de questões profundas através de uma linguagem confusa: ou seja, um filme destinado eternamente círculos de discussão cult-bacaninhas. Sério... o filme é tão chato que eu sei que nenhum ser humano normal aguentaria assistir ele até o final. E mesmo que a pessoa seja persistente como eu fui, vai chegar no final do filme com a sensação de duas horas perdidas na vida. Me lembrei de "Encontros e desencontros", outro clássico cult-bacaninha dirigido pela Sofia Copolla em que não acontece nada. Me lembrei ainda de "Cidade dos Sonhos", um filme do David Lynch que você assiste e tem que recorrer a umas 15 resenhas na internet pra entender o que era aquilo... Cinema não é isso! Não pra mim! É lógico que o cinema tem que levar reflexão ao seu público, mas pra isso ele precisa chegar ao público... Quando um diretor resolve ser sofisticado demais na "construção de uma linguagem poética" que corrobore com o conceito do filme, o filme fica chato e impossivel de ser entendido. E exatamente por isso se torna um sucesso "cult". Porque se você foi capaz de entender aquele filme, você é um cara que tem conceito pra discutir cinema. Fala sério!

domingo, 19 de abril de 2009

Please Don't Leave Me


Pra não acharem que eu mudei demais e me tornei muito política, crítica e chata com essa estadia na Alemanha, posto meu novo video favorito: Pink - Please don't leave me.
Porém, como não poderia deixar de ser, preciso justificar-me por postar esse clip agora. Primeiramente, porque eu simplemente amo esses clipes sarcásticos-vingativos, tipo Smile (Lily Allen), Sexed Up (Robbie Williams) ou Cry me a river (Justin Timberlake). Em segundo lugar, porque adoro o fato das músicas certas aparecerem na minha vida no momento certo. Terceiro, porque o clipe é simplesmente fantástico. Raramente vejo clips tão perfeitos pro que eles querem dizer sem ser óbvios... Sério, esse é o tipo de clip que eu queria ter dirigido! Os figurinos e as maquiagens são maravilhosos... a progressão do roteiro, a atuação da Pink com as caras de mais inocente do mundo... e principalmente a clara referência ao filme "O iluminado". Enfim... deixo vocês com o clip e a tradução da letra....


Por favor, não me deixe.

Eu não sei se eu posso gritar mais alto.
Quantas vezes eu te expulsei daqui ou disse algum insulto?
Eu posso ser muito má, mas realmente não quero
Eu sou realemente incapaz de qualquer coisa
Eu posso te cortar em pedacinhos quando meu coração está partido
Por favor, não me deixe.
Por favor, não me deixe.
Eu sempre digo que não preciso de você, mas sempre voltamos para o mesmo lugar:
Por favor, não me deixe.
Como eu me tornei tão nojenta?
O que é que você faz pra com que eu aja assim?
Eu nunca fui tão má!
Você não percebe que é só um concurso em que ganha quem bate mais forte?
Mas querido, eu não quero dizer isso.
Mesmo. Eu prometo.
Por favor, não me deixe.
Por favor, não me deixe.
Eu sempre digo que não preciso de você, mas sempre voltamos para o mesmo lugar:
Por favor, não me deixe
Eu esqueci de dizer alto o quão belo você realmente é pra mim
Eu não posso ficar sem
Você é meu perfeito saquinho de pancados
E eu preciso de você.
Desculpas!
Por favor, por favor não me deixe.

sábado, 18 de abril de 2009

Medo, nazis e a mídia

Estava há algum tempo com vontade de voltar a escrever um blog, mas ainda faltava uma motivação maior. Hoje, lendo o jornal, essa motivação veio por duas pequenas notas no jornal. A primeira, ameaçava a minha segurança e a segunda era uma nova notícia sobre um assunto também noticiado numa pequena nota há algumas semanas.

Primeiramente, devo dizer que ler o jornal na pequena cidade alemã que eu moro é uma experiência diferente de ler "O Globo" no Rio de Janeiro. Comecei a ler o jornal para melhorar o meu alemão e no início o lia com o dicionário do lado. Hoje, embora não conheça todas as palavras, consigo entender bem as notícias. Aprendi a gostar de política, até porque está é a única parte interessante do jornal... O resto fala sobre eventos da cidade e das redondezas e outras pequenas coisas inúteis. Koblenz, a cidade onde moro, é bastante pacífica. Quando alguém é assaltado ou um carro é roubado, vira notinha no jornal. Foi dessa forma que li hoje a notícia que me apavorou completamente. Um alemão-romeno foi espancado por um grupo de neo-nazi as quatro horas da manhã no bairro onde moro. Nos cinco meses que moro aqui foi a primeira vez que senti um medo de sair na rua semelhante ao que as vezes sentia no Rio. Aqui, quando saio a noite, volto cantando ou conversando em português com uma das minhas amigas brasileiras. Um ato simples que pode colocar minha vida em risco...

Enfim, a segunda "notinha" no jornal, falava sobre as causas da morte de um manifestante morto pela polícia em Londres no dia da cúpula do G20. Me lembro que uma semana antes da cúpula do G20, o jornal só falava disso. Páginas e páginas explicando sobre o G20, os países participantes, as expectativas sobre a cúpula desse ano que "mudaria os rumos da economia mundial", Barack Obama, Angela Merkel, Sarkozy. No dia seguinte à reunião o jornal estava lotado de notícias e fotos dos presidentes, primeiros ministros e primeiras damas. E uma pequena nota noticiava que um manifestante havia sido morto por um policial numa demonstração contra o G20. Sério, queria entender o motivo pelo qual o jornal enche uma página com a foto das mulheres do presidente dos EUA e da França, comentando sua elegância e outras coisas completamente supérfluas e gasta apenas algumas linhas noticiando a morte de um manifestante por um policial! Não me conformo com esse tipo de parcialidade da mídia! Um policial matou uma pessoa! Isso deveria estar na capa do jornal e não numa pequena nota...

Enfim... por hoje, deixo apenas esses dois comentários para reflexões futuras. É interessante perceber o quanto a mídia manipula as informações e tentar enxergar o que está por trás da maneira como as notícias são entregues ao seu "público alvo".