"Lugar de guardar zepelin. Qual é mesmo a palavra? Convés? Cais? Não, não... não é nada disso! Não sei... só sei que não constroem mais lugar de guardar zepelin. Também, pra que o fariam? Zepelins não são mais construidos. Hoje só se constroem aviões super-sônicos, ônibus espaciais, foguetes, trens de alta velocidade, viadutos espaciais. E os zepelins?"
Sentou-se na cama e pegou o controle remoto sobre a mesinha de cabeceira. Apontou para a parede, de onde desceu uma enorme tela. Clicou algumas vezes, em busca de um arquivo específico. Família. Histórias de família. Surge na tela a imagem de uma velhinha numa cadeira de balanço. Ela se sacode lentamente para trás e para a frente na cadeira. O pezinho no chinelo de flanela sai levemente do chão todas as vezes que a cadeira vai para trás. Uma voz de criança pergunta:
- Vovó, o que é um zepelin?
A avó sorri. Se levanta lentamente e sai, arrastando seus pezinhos no chinelo de flanela. A cadeira de balanço continua balançando lentamente, até parar. A avó volta com um zepelin em miniatura na mão. Uma mãozinha curiosa o recebe.
- Vovó, é verdade que você era aeromoça?
A avó balança a cabeça afirmativamente.
- De zepelin?
Ela sorri e sacode a cabeça novamente.
- E porque parou?
- Depois de um acidente em pouso de um zepelin em Nova Jersey, proibiram que os zepelins voltassem a voar.
- Ahh...
A mãozinha continua a analisar o zepelin de brinquedo curiosamente.
"Eu sempre quis voar de zepelin."
Sentou-se na cama e pegou o controle remoto sobre a mesinha de cabeceira. Apontou para a parede, de onde desceu uma enorme tela. Clicou algumas vezes, em busca de um arquivo específico. Família. Histórias de família. Surge na tela a imagem de uma velhinha numa cadeira de balanço. Ela se sacode lentamente para trás e para a frente na cadeira. O pezinho no chinelo de flanela sai levemente do chão todas as vezes que a cadeira vai para trás. Uma voz de criança pergunta:
- Vovó, o que é um zepelin?
A avó sorri. Se levanta lentamente e sai, arrastando seus pezinhos no chinelo de flanela. A cadeira de balanço continua balançando lentamente, até parar. A avó volta com um zepelin em miniatura na mão. Uma mãozinha curiosa o recebe.
- Vovó, é verdade que você era aeromoça?
A avó balança a cabeça afirmativamente.
- De zepelin?
Ela sorri e sacode a cabeça novamente.
- E porque parou?
- Depois de um acidente em pouso de um zepelin em Nova Jersey, proibiram que os zepelins voltassem a voar.
- Ahh...
A mãozinha continua a analisar o zepelin de brinquedo curiosamente.
"Eu sempre quis voar de zepelin."
Chateada, desativa o telão. Coloca o controle remoto de volta no seu lugar, ao lado do zepelin em miniatura.
"Lugar de guardar zepelin. Não constroem mais lugar de guardar zepelin. Apenas lugares pra guardar carros, ônibus, aviões, pessoas... Mas não lugar de guardar zepelin."
Abre a caixa redonda sobre a mesinha de cabeceira. Pega dentro dela uma pequena ferramenta que encaixa na lateral de seu pescoço. Sua cabeça solta-se de seu corpo. Mecanicamente, com uma mão de cada lado do crânio, coloca sua cabeça dentro da caixa redonda e a fecha. Continua sentada na cama, com as mãos paradas paralelamente na sua frente.
"Não controem mais lugar de guardar zepelin. Apenas lugar de guardar cabeça."
"Lugar de guardar zepelin. Não constroem mais lugar de guardar zepelin. Apenas lugares pra guardar carros, ônibus, aviões, pessoas... Mas não lugar de guardar zepelin."
Abre a caixa redonda sobre a mesinha de cabeceira. Pega dentro dela uma pequena ferramenta que encaixa na lateral de seu pescoço. Sua cabeça solta-se de seu corpo. Mecanicamente, com uma mão de cada lado do crânio, coloca sua cabeça dentro da caixa redonda e a fecha. Continua sentada na cama, com as mãos paradas paralelamente na sua frente.
"Não controem mais lugar de guardar zepelin. Apenas lugar de guardar cabeça."
Nice. Have you visited the Zeppelin Museum in Deutschland? Es ist so toll. Einfach super diese großen langsamen fliegenden Zigarren. Ich liebe sie!
ResponderExcluirBem eu sou suspeito pra falar , mas adoro textos surreais... Interessante essa busca por um passado “perdido” , que o desenvolvimento tecnológico acabou tornando obsoleto. (De novo , como em "Revolver" , a vontade de revirar as tais caixas de lembranças ) . Interessante o herói questionar e ir numa direção contrária à própria tecnologia que o gerou . E a interação física com a telona... Uma avó virtual usando os meios desenvolvidos do “futuro” para resgatar o passado. Adorei.
ResponderExcluirAi, que bom que alguém entendeu o meu texto! rs... Valeu, Bubu!
ResponderExcluir[off topic]
ResponderExcluirOi, Carol, tudo bem?
Cuidamos das mídias online do filme “Olhos Azuis” do diretor José Joffily, que estréia no circuito nacional de cinema em 28 de maio. Gostaríamos de falar com você!
Assunto: Convite especial para pré-estreia do filme exclusiva para blogueiros.
Achamos seu blog interessante e queremos que participe! A data ainda não está fechada, mas é provável que seja entre 10 e 20 de maio, no Rio de Janeiro.
Entre em contato: coevosfilmes@gmail.com
Para mais informações sobre o filme, visite o nosso site: http://www.olhosazuisfilme.com.br/olhosazuis/
Sinopse:
Marshall (David Rasche) é o chefe do Departamento de Imigração do aeroporto JFK, em Nova York. Comemorando seu último dia de trabalho, Marshall resolve se divertir complicando a entrada no país de vários latino-americanos. Entre eles está Nonato (Irandhir Santos), um brasileiro radicado nos EUA, dois poetas argentinos, uma bailarina cubana e um grupo de lutadores hondurenhos. Dois anos depois, Marshall vem ao Brasil procurar uma menina de nome Luiza. Quando ele conhece Bia (Cristina Lago), uma jornada em busca de redenção se inicia. Olhos Azuis foi o grande vencedor do II Festival Paulínia de Cinema com seis prêmios, incluindo o de Melhor Filme.
No Twitter: @olhosazuisfilm