I - SOBRE O SENTIDO DO ABISMO
liberdade não se faz sozinho.
com quantos nós se faz um coletivo?
quais indivíduos desatam esse nó?
é preciso dar as mãos para se encontrar no abismo
se joga comigo!
II - SOBRE O SENTIDO DA CONTRADIÇÃO
só há cumplicidade na troca
as vezes é preciso se desenrolar
para se enrolar de novo
ceder pra aprender a querer
querer pra de novo ceder
chegar para poder partir
soltar-se para se prender
contradizer.
III. SOBRE O SENTIDO DO MEDO
cegueira nos faz enxergar
perder nos ajuda a ganhar
paixão que te faz deslocar
medo para interrogar
desconforto para aprender
eu para existir você
nós.
segunda-feira, 15 de setembro de 2014
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
Online Flaneur a.01
anacronismo
contato.
sons estranhos.
sp.
algum repórter televisivo.
sirenes de polícia;
noite?
sirenes ao longe.
lábios.
falta a caneta
sobram teclas
um ônibus acelera
faltam lá bios.
canetas aceleram.
forma.
alta velocidade.
nenhum acidente.
amanhã eu descubro o que foi escrito
ou pensado
ou dito
ou sonhado
ou não.
o corpo dói. o sono grita.
me falta um cigarro, uma cerveja.
falta algo em mim. qual das máscaras?
estão tão grudadas no meu rosto que...
perdi um olho! uma bochecha!
mas ninguém notou.
a nova máscara era eficaz.
de onde vem todas essas pessoas sozinhas?
contato.
sons estranhos.
sp.
algum repórter televisivo.
sirenes de polícia;
noite?
sirenes ao longe.
lábios.
falta a caneta
sobram teclas
um ônibus acelera
faltam lá bios.
canetas aceleram.
forma.
alta velocidade.
nenhum acidente.
amanhã eu descubro o que foi escrito
ou pensado
ou dito
ou sonhado
ou não.
o corpo dói. o sono grita.
me falta um cigarro, uma cerveja.
falta algo em mim. qual das máscaras?
estão tão grudadas no meu rosto que...
perdi um olho! uma bochecha!
mas ninguém notou.
a nova máscara era eficaz.
de onde vem todas essas pessoas sozinhas?
terça-feira, 5 de agosto de 2014
taxa de conveniência
O amor me ligou às 3 horas da manhã
era engano.
Quando criança, vi várias vezes o amor tocar a campainha
e sair correndo.
No inverno, o amor desarmou o chuveiro no meio do banho quente.
No verão, me esbarrou suado num ônibus sem ar condicionado
O amor deixou um prato sujo de gordura na pia
assim que eu terminei de lavar a louça.
Ontem, o amor me pediu esmola na esquina da Rua dos Inválidos.
era um velho sujo e bêbado.
era engano.
Quando criança, vi várias vezes o amor tocar a campainha
e sair correndo.
No inverno, o amor desarmou o chuveiro no meio do banho quente.
No verão, me esbarrou suado num ônibus sem ar condicionado
O amor deixou um prato sujo de gordura na pia
assim que eu terminei de lavar a louça.
Ontem, o amor me pediu esmola na esquina da Rua dos Inválidos.
era um velho sujo e bêbado.
segunda-feira, 30 de junho de 2014
inquietude
inquieta
arredia
a procura de distração
pro corpo
pra alma
pra mente
sem escolha. vazio. impressão
inquieta
em fuga
sentada sem se mover
pra longe
pra perto
pra onde?
lugar quente. colo. correr
inquieta
incompleta
papel e caneta na mão
pra escolha
pra fuga
pra meta
rabisco. palavra. articulação
inquieta
abandono
desejo de se deixar ser
pra sempre
pra dentro
pro mundo
querendo se deixar querer.
arredia
a procura de distração
pro corpo
pra alma
pra mente
sem escolha. vazio. impressão
inquieta
em fuga
sentada sem se mover
pra longe
pra perto
pra onde?
lugar quente. colo. correr
inquieta
incompleta
papel e caneta na mão
pra escolha
pra fuga
pra meta
rabisco. palavra. articulação
inquieta
abandono
desejo de se deixar ser
pra sempre
pra dentro
pro mundo
querendo se deixar querer.
terça-feira, 17 de junho de 2014
A corda
A menina tinha essa mania:
queria salvar a todos que encontrava no caminho
salvá-los do tédio
da perdição
do ódio
da paixão
dos amigos
dos aflitos
dos santos
dos fingidos
salvá-los, enfim, de si mesmos
Seu olhar atento buscava perdidos em potencial
ao encontrá-los, lançava sua corda
e aguardava com ansiedade que tentassem se içar
nunca tentavam.
Certo dia, a menina cansou:
amarrou sua corda em torno do próprio pescoço.
curou-se.
queria salvar a todos que encontrava no caminho
salvá-los do tédio
da perdição
do ódio
da paixão
dos amigos
dos aflitos
dos santos
dos fingidos
salvá-los, enfim, de si mesmos
Seu olhar atento buscava perdidos em potencial
ao encontrá-los, lançava sua corda
e aguardava com ansiedade que tentassem se içar
nunca tentavam.
Certo dia, a menina cansou:
amarrou sua corda em torno do próprio pescoço.
curou-se.
sexta-feira, 30 de maio de 2014
Escolhas
A liberdade me corrói por fora
me empurra pra dentro
me impede a respiração, a observação
o pensamento
A prisão me engole por dentro
me prende lá fora
me amarra, me congela, me domina
vai embora
Quantas prisões valem sua alma?
Quantas pressões implodem sua calma?
Quantas palavras conseguem te comprar?
Quantas pessoas desejam te libertar?
Quanto vale sua algema?
sua corda?
seu grilhão?
Quanto compra sua alma?
seu corpo?
seu perdão?
Quanto pesa a liberdade?
Com quantas liberdades se faz uma prisão?
foto: Carolina Meirelles |
sexta-feira, 4 de abril de 2014
na laje
foto: Carolina Meirelles |
folha em branco.
preencher vazios
equilibrar o espaço
correr
parar
correr, correr, correr.
questionar
andar
parar
andar,andar, andar
questionar
buscar
deixar-se raptar
abandonar
entregar
entregar-se
novos olhares
novas prisões
LIBERDADE
novas prisões
novos olhares
OS OUTROS
novos olhares
folha em branco
uma falha
um risco
um rabisco
re-escrever
re-inventar
re-enquadrar
re-dimensionar
novos mundos
novos dramas
LIDERDADE
novos dramas
novos mundos
NÓS
novos nós.
(reata-me)
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
pes [o] del [a]
Durante anos viu-se presa àquele amor impossível. Não havia
nenhum lampejo de possibilidade naquela relação. Eram amigos. Desde o primeiro
dia. Sempre seriam amigos. E nada mais. Não demorou muito para que a menina se
tornasse moça e a moça, mulher. Ainda assim, nada mudou. Viam-se quase que
diariamente. Conheciam todos os segredos. As vezes pareciam habitar na alma do
outro. E só. Com o passar dos anos, passou a viver em paz com seu destino. Não
sofria mais a cada encontro. Procurou outros prazeres, outras paixões.
Estavam na casa dela, deitados na cama e conversavam por
horas a fio. Abraçaram-se e não havia nenhum fio de esperança em seu coração.
Riram de algo sem sentido. Ela pegava no sono quando sentiu os lábios tocando os
seus. Um turbilhão de coisas dentro da menina-moça-mulher. Tudo, tudo brotou
dentro dela: todos os girassóis e rosas e jasmins que esperavam por um raio de sol para florescer. Eles estavam ali. E ela mal conseguia viver aquele beijo.
Embaralhou-se dentro de si numa espécie de tontura, de confusão. Abriu os olhos e
se beijavam. Se entregou ao momento como poucas vezes se entregara. Juntos,
riram da situação como sempre riam de qualquer coisa que só os dois entendiam.
Os corpos criavam cores, que se derretiam em formas e se fundiam em um, para logo se separarem novamente e transbordar cores jamais vistas. Tudo era como ela sempre
soube que deveria ser. Riam. Riam, pois a felicidade não cabia neles.
Eram duas da manhã. Estava só em sua cama. Lembrou-se de um filme e tentou resgatar em sua memória o momento em que chegaram, os dois, na sua casa. Não encontrou rastro dessa memória, nem de terem se encontrado no dia anterior. Foi até o banheiro. Lavou o rosto. Na frustração de perceber que fora só um sonho,
decidiu não mais dormir. Tinha medo de tudo que
sentira na fantasia. Quando amanheceu, já sabia não ser possível ficar acordada para sempre. Levantou-se. Abriu a janela. O sol nascera mais cedo naquele dia. Os pés descalços sobre o parapeito. Nua. Fechou
os olhos e não teve mais medo. Antes de tocar o chão ainda ouviu, distante, o
som do mar. E soube que não dormiria mais.
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
verbo reflexivo
transparentear-se:
tornar-se visível em excesso
mostrar-se demais
deixar de esconder
expor.
o medo nos obriga a não ser
o medo nos despeja de nós mesmos
quando deveríamos nos povoar
o que nos torna real deve ser camuflado
transparentear-se
deixar-se visibilizar
desnudar
ser.
tornar-se visível em excesso
mostrar-se demais
deixar de esconder
expor.
o medo nos obriga a não ser
o medo nos despeja de nós mesmos
quando deveríamos nos povoar
o que nos torna real deve ser camuflado
transparentear-se
deixar-se visibilizar
desnudar
ser.
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