segunda-feira, 30 de abril de 2018

COLISÃO

duas estrelas de grande densidade
sólidas, mais fortes que o aço
quilômetros e quilômetros distantes uma da outra
girando - movimento em espiral
                     PARA DENTRO
girando - centenas de vezes por segundo
e por serem absurdamente densas
uma estrela atrai a outra de forma igualmente intensa
quanto mais se aproximavam
mais rápido orbitavam
uma em direção a outra
quantomaisseaproximavammaisrápidoorbitavam
girando milhares de vezes por segundo
                      PARA DENTRO

C
O
L
I
S
Ã
O



à medida que colidiam
tremores no tempo-espaço
o brilho de um bilhão de sóis
fusão
um dos mais violentos eventos do universo:
Eu e Você.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Água Rasa

Somos os mesmos
Mas somos tão outros
Deixo o sol me cegar
A pele fina da cicatriz sensível
Abro os olhos e deixo o sol queimar minhas retinas
Respiro
Posso finalmente ser
Sinto a grama
Sinto seu cheiro
Sinto o silêncio
Sinto sua mão no meu cabelo
Sinto
Sinto
Sinto
Sinto muito.
Não vejo mais nada
Não tenho nada mais para dizer
Olho para o sol
Me deixo cegar pela luz
Não por amor

domingo, 18 de junho de 2017

Poema para seguir em frente.


Eu:
sorridente, na pose, disfarço o abalo
performo, atuo, faço cena, não calo
sigo o fluxo, preencho, formulo
repito palavras, transbordo, me anulo

tento fingir, distrair minha mente
perco a noção, sou inconsequente
resisto, eu fujo e tento esquecer
por saber que não posso, só sei te querer.

Nós:
no ruído entre brincadeira e verdade
na vibração silenciosa da vaidade
no remix de muitas identidades
no intervalo entre egoísmo e liberdade

no atrito dos dedos na corda do violão
no contra-tempo de cada te(n)são
na nota tocada sem amplificação
somente um eco da imaginação.

terça-feira, 2 de maio de 2017

FAXINA

Lavei seu cheiro do meu travesseiro
seu prazer dos meus lençõis
e algumas gotas de desejo que escorreram pelo chão.

Encontrei meu nome (sus)surrado
no vão entre a cama e a parede
E varri montes de palavras perdidas encrustadas em cada quina.

Difícil foi esfregar as marcas do meu corpo,
as manchas na minha auto-estima
e colar os pedaços de confiança que você derrubou sem querer.

- Quase caí da janela ao limpar o vidro das lembranças! -

Torci panos e panos de destinos imaginados
que desceram imundos pelo ralo
(tive que deixá-los de molho: encardidos que estavam de desilusão)

Ao deitar na cama, porém, a saudade certeira
paira sobre mim feito poeira:
invisível, incessante e em movimento eterno e constante.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Engrenagens Urbanas

Os garçons servem, os garis varrem, os mendigos pedem, as putas dão.
Os motoristas transportam garçons, garis e putas (mendigos não!)
A polícia ronda.

Os garçons varrem, os motoristas servem, as putas pedem, os garis dão.
Os mendigos rondam.
A polícia transporta putas e mendigos (garis e garçons - se brancos - não!)

Os garçons pedem, os garis transportam, os mendigos varrem, os motoristas dão.
As putas rondam.
A polícia serve (a quem?)
A nós, não!

quarta-feira, 8 de junho de 2016

formatar

Acordou prometendo escrever
mas tinha aula
Durante a aula prometeu escrever a tarde
mas tinha sono
E tinha também todas essas coisas engasgadas
que não sabia como tirar de dentro de si
(ou se queria tirá-las desse abrigo confortável)
Passou a tarde lendo
e prometendo a escrita pra noite
Precisava de “estofo” para a escrita
inspiração.
A noite chegou e prometeu que escreveria
se tivesse uma taça de vinho.
Era a rainha da procrastinação
Se escrevesse tão bem quanto procrastinava, estaria rica
Comprou vinho, comprou chocolate
Encheu seu estoque de tudo que poderia se tornar uma desculpa mais tarde
Sentou-se
Ligou o computador
A tela em branco
ajustou a fonte
o espaçamento
justificou seus medos
acendeu um incenso para espantar as inseguranças
tomou um gole de atitude

e se jogou nas suas próprias dúvidas.

quarta-feira, 23 de março de 2016

domingo

na rua vazia, os passos ecoam
e nem os fones de ouvido disfarçam
o som do que se passa em mim.

nem viv'alma no caminho
e, no entanto, passos no asfalto
me fazem perceber meu trajeto:
lenta e silenciosamente caminho pra dentro de mim.